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Por que somos tão cavalos?

24 de dezembro de 2015 Críticas

Vol. VIII n° 66 dezembro de 2015 :: Baixar edição completa em pdf

Resumo: Aos 80 anos, Maria Alice Vergueiro realiza mais um experimento cênico radical e encena o próprio velório na peça “Why the horse?”. Este texto discute a influência de Brecht na constituição formal do espetáculo e investiga a possível concepção de imortalidade apresentada em cena.

Palavras-chave: Maria Alice Vergueiro, Brecht, Godard, Borges

Abstract: In Why the horse?, Maria Alice Vergueiro, 80 years old, proposes another radical scenic experiment and stages her own funeral. This text discusses the influence of Brecht in the formal construction of her experiment and investigates the particular conception of immortality brought to the scene.

Keywords: Maria Alice Vergueiro, Brecht, Godard, Borges

 

“A morte (ou sua alusão) torna os homens preciosos e patéticos. Estes comovem por sua condição de fantasmas; cada ato que executam pode ser o último; não há rosto que não esteja por dissolver-se como o rosto de um sonho. Tudo, entre os mortais, tem o calor do irrecuperável e do aleatório.”

Jorge Luis Borges

 

Em uma crônica publicada em 2008, Luis Fernando Veríssimo propõe um exercício espiritual que, mais ou menos inconscientemente, todos já realizamos alguma vez:

No filme La chinoise, de Jean-Luc Godard, um personagem se vê diante de um quadro-negro em que estão escritos os nomes de todos os principais escritores, compositores, pensadores e artistas da História – e começa a apagá-los, nome por nome, até sobrar um só. Está fazendo uma espécie de purgação intelectual. Experimente fazer o mesmo. Encha um quadro-negro com todos os nomes que lhe ocorrerem, sem nenhum tipo de ordem. Uma sequência pode ser, por exemplo, “Heródoto, Nietzsche, São Tomás de Aquino e Charlie Parker”, outra “Villa-Lobos, Strindberg, Marquês de Sade, Platão e Frida Kahlo”. Quando não sobrar espaço no quadro-negro nem para um nome curto (“Meu Deus, esqueci o Rilke!”), comece a apagar. Nome por nome. O importante é não racionalizar. Não estabelecer critério ou hierarquia. Deixar o apagador fazer seu trabalho sem interferência da sua consciência ou da sua emoção. Apenas ir apagando. Você pode descobrir coisas surpreendentes a seu próprio respeito. Nomes que, até aquele momento, faziam parte da sua galeria de veneráveis se revelarão apagáveis, outros serão poupados até quase o fim. E no fim, o nome que sobrar, o único nome que você não apagar, poderá ser a maior revelação de todas. Não será, necessariamente, o nome de quem você considera o mais importante, influente, valioso ou simpático da história das ideias ou das artes. Será apenas o nome que, por alguma razão, você não conseguiu apagar. Depois você só precisará se explicar para você mesmo. No filme do Godard, o único nome que ficava no quadro-negro era o de Brecht (VERISSIMO, 2008).

Equação entre intenção e resultado formal

20 de fevereiro de 2011 Críticas
Atriz: Maria Alice Vergueiro. Foto: Fábio Furtado.

O espetáculo As três velhas remete ao meu viés crítico pelo lado mais inusitado: ao momento em que decidi escrever sobre teatro. Essa origem parafraseia Roland Barthes quando se deparou com o Berliner Ensemble em Paris. O choque estabelecido em Barthes pela encenação de Brecht, em confronto com o teatro burguês praticado na França, causou uma sensação que impulsionou sua perspectiva. Seus escritos sobre teatro aprofundaram o viés da materialidade. Minha visada, aliada à do crítico, se ajusta pela busca das singularidades da linguagem teatral que perfazem um movimento de resistência dessa esfera. O produto resultante do encontro entre a dramaturgia de Alejandro Jodorowski e a direção/desejo de Maria Alice Vergueiro ilumina as intenções em obra do primeiro e estabelece seus devires. O Teatro Pândega de Vergueiro provoca apreensões que não almejam o esclarecimento, mas materializam as tensões existentes na visão de Jodorowski, uma personalidade de difícil classificação. A combinação entre a bufonaria do Pândega e o paroxismo do surrealismo – característica da obra de Jodorowski – dá a ver o trágico em sua performance de crítica. Essa sensação, que nunca tive com os filmes do diretor, só foi possível por meio de um evento que acontece ao vivo, em que o espectador é agente da mesma ação que se desenvolve no palco. A especificidade do teatro se faz visível na reação da plateia em uma performance crítica que transita entre a apreensão dramática e um riso que desabriga novos modos de percepção.

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A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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