Autor Astier Basílio
Qual o tempo de vida de um espetáculo?
Hysteria, que contribuiu na consolidação do nome do grupo XIX de teatro, é uma peça dos anos 2000 que vem sendo objeto de apreciação crítica e despertado a curiosidade do meio teatral. Tanto é assim que foram as pessoas do meio teatral que compuseram boa parte da plateia que lotou as dependências de uma sala no Liceu de Artes e Ofícios, em Recife, em apresentação do Festival Palco Giratório.
Luiz Fernando Marques sabe o que significa a noção de “lugar” nos dias de hoje. Este signo, que vem sendo debatido com freqüência na arte, sobretudo na arte urbana, com suas intervenções e ressignificações. Quando a direção opta por separar homens e mulheres, o lance de dados não é feito de modo gratuito e meramente estilístico. A divisão por gênero, feita pelo diretor Luis Fernando Marques, estabelece o lugar de onde se quer partir e de onde se quer falar: da condição da mulher.
Um teatro assombrado por belezas
Um dos espetáculos mais concorridos do 11º Festival de Teatro do Recife, realizado mês passado, foi Assombrações do Recife Velho. Mesmo a apresentação sendo à noite, houve filas se formando em frente ao teatro Armazém desde o princípio da tarde. Há boas razões para este interesse. A primeira: o tema. A montagem é baseada em um livro homônimo de uma das maiores personalidades do Estado pernambucano, o escritor Gilberto Freyre. A segunda: A companhia Os Fofos Encenam, que assina a montagem, é de São Paulo, mas boa parte de seu elenco e o seu diretor Newton Moreno são de Pernambuco. A terceira: a peça, até então, não havia se apresentado em Recife.
A antibailarina
Foi Chico Buarque e Edu Lobo quem escreveram “A Ciranda da Bailarina”. Aquela canção onde se lê que todo mundo tem ou teve: remela; sujo atrás da orelha; piolho; cheiro de creolina; casca de ferida e uma série de outras coisas. Todo mundo. Exceto a bailarina, enfatiza cada final de estrofe. A letra sintetiza algo que está latente no senso comum. De que a bailarina é esse ser diáfano, angelical, quase arquétipo da leveza, do frágil e de certa visão (parcial, como todo ponto de vista o é) do que seja o feminino.
Acerta em cheio Alessandra Colasanti, que dirige, escreve e atua em Anticlássico – desconferência e o enigma vazio ao causar o deslocamento, não o único do espetáculo, desse arquétipo, pintando-o de vermelho e vestindo-o de outros sentidos. A peça foi a atração de encerramento do Festival de Artes da cidade de Areia, na Paraíba.