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Ser travesti não precisa ser sempre uma barra pesadíssima!
“Por que eu tenho que parecer hétero?
Por que eu tenho de parecer mulher?
eu não posso parecer uma caminhoneira, um caminhoneiro?
Por que eu não posso ser travesti?”
(Claudia Wonder, 2009)[1]
É uma barra MUITO pesada ser travesti e estar viva (e atuante) nesse país que, mesmo antes de um presidente genocida, já liderava o ranking sendo o que mais mata pessoas trans em todo o mundo: o foco maior é em travestis, sobretudo pretas e em situações de rua, prostituição e alta vulnerabilidade social.
Fazer-se, atuar, reivindicar, é, não só arte, política. Eu, que escrevo esse texto, e as outras que transcrevo nesse esboço crítico, somos, antes de mais nada, o sonho de conquista revolucionária das que aqui estavam antes da violência chamada de Descoberta a partir da Portugal colonial chegar, e também das que, como Xica Manicongo[2], foram escravizadas e aqui, longe de suas terras originárias, obrigadas a serem quem não são, ultrajadas. Somos também a continuação da existência das que resistiram à Operação Tarântula[3] e à Ditadura Militar. Ser travesti é assumir-se contra um projeto de mundo processualmente construído para nos matar… Mas é também ativar uma força ancestral de poder e glória contra um CIStema que cega a todos e todas fazendo com que trabalhem em prol de ver-nos mortas, apagadas. É necessário então, para que sigamos produzidas-produtivas e vivas-ativas, que reergamos o nosso projeto de mundo, contrário ao imundo projeto precário e caduco, mas ativamente potente, branco-europeu-cis-colonial e binário que vem, ao longo de séculos, nos apagando, afastando e arrancando, literalmente, o nosso sangue. Para isso, se faz necessário conhecer e exaltar as que estiveram aqui antes de nós e reconhecer e estimular as potências das que ainda seguem vivas aqui.
Representatividade trans
Nota: esse texto utiliza a linguagem neutra, trocando marcações de gênero das palavras pelo “e”; o “x” não é usado por ser ilegível, nesse contexto de marcação de gênero, pelos computadores programados para pessoas com deficiência visual.
Janeiro foi o mês da Visibilidade Travesti e Trans, no qual relembramos e comemoramos o histórico dia 29 de janeiro de 2004, quando pessoas Trans estiveram pela primeira vez no Congresso Nacional brasileiro falando sobre suas vivências e demandas políticas. Nós do MONART (Movimento Nacional de Artistas Trans) tentamos, desde o início de janeiro, dialogar com a equipe da peça Gisberta, atuada e concebida pelo ator cisgênero Luis Lobianco, sobre a história de uma mulher Trans que viveu entre Brasil, França e Portugal e que foi assassinada em 2006. Por um lado, nossas tentativas de diálogo com a equipe da peça foram tratadas como um tipo de afronta a ser condenada e censurada como se fosse uma “ameaça”. Em consequência, fomos difamades e ofendides por parte da grande mídia jornalística. Por outro lado, recebemos apoio de diversos grupos, coletivos, canais midiáticos e indivíduos que reconheceram a importância do debate que tentamos levantar.