Tag: Marina Mercier
A sinceridade e a limitação do relato emotivo
Novo trabalho do Grupo Garimpo, Tudo sobre minha avó se inscreve numa vertente de encenações recentes que buscam um registro de atuação transparente a partir da fala em primeira pessoa dos atores. Este projeto, como outros, investe numa quebra da hierarquia entre intérpretes e espectadores. Não por acaso, é realizado em espaços reduzidos e destinados a uma plateia concentrada.
Vale citar iniciativas que vêm percorrendo essa trilha, ainda que não de maneira semelhante. Em Ficção, reunião de monólogos da Cia. Hiato, cada ator discorria diante do público sobre acontecimentos de suas vidas, evidenciando o modo como se apropriaram dos fatos (portanto, como ficcionalizaram as experiências). Em Estamira, a atriz Dani Barros entrelaçava a jornada da personagem-título, realçando a lucidez contida em seu processo esquizofrênico, com o doloroso elo com a própria mãe. Em A alma imoral, Clarice Niskier se colocava frente aos questionamentos lançados pelo rabino Nilton Bonder em atuação destituída de vícios de declamação ou impostação. Em A falta que nos move… ou todas as histórias são ficção, os atores portavam a primeira pessoa, o que não significava que fossem os donos das histórias descortinadas.
Sensações suspensas e partilhadas
Nível 6 é o mais recente trabalho do Grupo Garimpo, formado por Ricardo Libertini, Vanessa Silveira e Marina Mercier, que desde 2007 se reúne em volta de projetos que têm em seu cerne a pesquisa da linguagem performática, o processo colaborativo e a busca pelo intercâmbio artístico com companhias de diversas origens e lugares. Uma primeira versão do trabalho, em 2010, tinha um caráter performativo, de intervenção no cotidiano da cidade, já que os atores ocupavam lugares públicos e de grande circulação de pessoas na zona sul carioca e em Niterói, apenas observando e tentando aproximações corporais com os transeuntes. Em 2011, Nível 6 fez apresentações na Mostra Fringe do Festival de Curitiba e dentro do projeto Armazém 19, na sede do Grupo XIX de Teatro. Partindo destas experiências isoladas, em 2012 o grupo resolveu levar o trabalho para o Espaço Rampa, em Ipanema, e em seguida realizou quatro apresentações em outro espaço alternativo, destinado a exposições de fotografia, de artes plásticas, e a peças também, o espaço A Comuna. As experiências na rua, em Curitiba, em São Paulo e nos dois espaços alternativos corroboram a proposta vigente na peça e na pesquisa do grupo, preocupado com a relação de interação entre a cena e o público.