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Identidade, tradição e o agora
Decidi rever no celular as fotografias tiradas durante o Festival de Curitiba em março deste ano. Há alguns dias relia as anotações do festival escritas num caderno e era como se faltasse uma memória que iluminaria um rastro atravessando tantas páginas sobre espetáculos, debates, encontros, cafés.
Escrever sobre um festival com tanto tempo passado tem suas especificidades. É minha segunda experiência com esta proposição (a primeira foi no FIAC 2015) e agora algumas operações tornam-se mais definidas. Destaco aqui uma: na primeira vez, a ideia foi reunir o máximo de anotações e documentos possíveis – uma tentativa de prevenção ao esquecimento. Desta espécie de fichamento um olhar sobre a curadoria do festival emergiu, e a escrita se desdobrou nesta perspectiva de admitir o todo do evento como objeto da crítica.
Batucada, Looping e multidão
Faço neste ensaio um exercício crítico sobre duas performances apresentadas durante o Festival Panorama da Dança 2016: Batucada, de Marcelo Evelin; e Looping: Bahia Overdub, de Felipe de Assis, Rita Aquino e Leonardo França. O exercício é uma tentativa de conversar com algumas proposições artísticas da dança contemporânea que abrem espaços para uma participação diferenciada do espectador, de modo que esta abertura não se configure como simples figuração, mas como fusão de fato, com e na obra. Este fato estético não está apartado da realidade nem do momento político em que vivemos, no qual alguns direitos que pareciam assegurados têm sido sistematicamente ameaçados por medidas de exceção que atingem as conquistas do passado. A criação artística, neste sentido, parece acender seus sinais de alerta para, de diferentes maneiras, inventar outras formas de vida e de arte que incluem uma percepção social mais aguda.
Inicio pela primeira proposição, fazendo antes um relato que contextualiza o encontro com a obra.