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Polifônico
Dando continuidade à sua pesquisa começada pela peça É só uma formalidade, a companhia Quatroloscinco, de Belo Horizonte, apresenta outro espetáculo que mescla as possibilidades de confluência entre a realidade e a ficção. Outro lado, apresentado no Teatro Cacilda Becker na Mostra Mambembão 2012, é uma peça que evoca as infinitas possibilidades existentes no caos quando se está diante de algo inevitável. Quatro personagens aprisionados em um bar, em tempos de guerra, lidam com o determinismo, procurando na ficção uma válvula de escape razoável.
Estética da impotência
“Estamos cansados do homem, nós sofremos do homem.”
Nietzsche
Após a reviravolta que sacou a humanidade da Idade das Trevas, o Renascimento formulou uma nova concepção do mundo, sob a qual, aos poucos, a sociedade europeia e suas descendentes foram se estruturando. Logo o Humanismo trouxe a figura do indivíduo e a ideia de uma razão que determina e referencia qualquer realização. O Racionalismo apossou-se do trono divino, vago na modernidade. O homem e seus costumes foram dissecados. Com esses estudos, manuais enciclopédicos puderam ser forjados para auxiliar o caminhar da sociedade. Não obstante, a referência a esse humanismo se tornou compulsória e o comportamento do homem se estruturou como uma fórmula demasiado humana. O grupo Quatroloscinco, procurando desconstruir esse protocolo, levou à cena É só uma formalidade.
Porque a vida não é bonita o bastante
Em É Só Uma Formalidade, seu espetáculo de estreia, o grupo mineiro Quatroloscinco Teatro do Comum escolheu tratar da ilusão, tema dos mais pertinentes à arte teatral. Se a vida não é bonita o bastante, como diz um dos quatro atores em cena, resta criar.
Interessados nos fracassos da trajetória humana e nas esperanças que se esvaem, os atores-criadores armam o espetáculo, porém, sem sucumbir simplesmente ao retrato do feio ou do sombrio. Se questionam a ficcionalização ilusória da realidade, há neles sobretudo uma crença na criação artística, que se expressa em uma dramaturgia irônica e pessimista, mas, ao mesmo tempo, em relações afetuosas entre os atuantes e destes com a plateia. Sinal de que, diante da falta de entendimento entre os personagens, o grupo não desistiu da comunicação com o público. O pessimismo, então, aparece como tema, não como fim.