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Planos, partitura e dramaturgia: o naturalismo e a confissão da carne
Vol. IX, nº 67 abril de 2016 :: Baixar edição completa em PDF
Resumo: O presente ensaio pretende discutir a montagem de O abajur lilás, de Plínio Marcos, construída pela Vil Companhia de Teatro, que teve grande repercussão na cena contemporânea carioca. Para isso, enfrenta-se o naturalismo do texto de Plínio Marcos, a relação metafórica deste com a ditadura brasileira, e a criação de um texto corpóreo enriquecido pela encenação de Renato Carrera.
Palavras-chave: naturalismo, planos narrativos, textocentrismo, dramaturgia do corpo, discurso da carne, crítica
Abstract: This review discusses the staging of Plínio Marcos’ O abajur lilás by Vil Companhia de Teatro, who had great repercussion in the Rio de Janeiro contemporary theatre scene. The staging faces the naturalism of Marcos’ text, the metaphorical link between the play and brazilian dictatorship, and the creation of a corporeal text added by Renato Carrera’s direction.
Keywords: naturalism, narrative plans, text centrism, body’s dramaturgy, flesh’s discourse, criticism
A montagem de O abajur lilás dirigida por Renato Carrera marca a comemoração dos 80 anos de nascimento do dramaturgo Plínio Marcos e o surgimento da Vil Companhia de Teatro, idealizada pelo diretor e por Andreza Bittencourt, uma das atrizes do grupo. Para além da comemoração do aniversário do autor e do surgimento de uma nova companhia, algumas questões merecem ser destacadas na montagem: a comunicação da peça de Plínio Marcos hoje e o processo de atualização da obra edificada pelo grupo.
Era vidro e se quebrou ou um comentário sobre a peça
Joaquim Goulart poderia ter escolhido mais um Plínio Marcos para levar à cena. Ele e seu Núcleo Caixa Preta também poderiam ter recapitulado a Medeia de Riaza, anos depois do fechamento do Teatro Augusta*. Ou, numa terceira via, poderiam ter empreendido levar ambas as peças, nalgum lugar entre a Boca do Lixo paulista e a Espanha pós-Revolução de Luis Riaza.
Mas, com a escrita de seu dramaturgo, Vadim Nikitin, O Abajur Lilás ou uma Medeia perdida na Augusta? recorre ao cruzamento dessas obras sobre o asfalto gasto de uma Rua Augusta (Rua Angústia?, como pergunta a certa altura o Ator ao seu Analista), para gerar uma quarta obra. São três as tramas a trafegar pelo fluxo intenso da rua paulistana: as duas obras citadas e cenas de uma sessão psicanalítica, que – segundo o diretor e ator Joaquim Goulart – têm carácter biográfico, e trazem para a cena questões inquietantes, latejantes a esse artista, também ex-proprietário do Teatro Augusta, casa que abrigou realizações teatrais frutos da parceria com sua irmã, a atriz Cácia Goulart. Essas escolhas fazem do espetáculo um exercício de espelhamento entre as duas peças atravessado por cenas da sessão psicanalítica.