Foto: Ana Cecília Brignol

O romance O idiota de Fiódor Dostoièvski inspirou pelo menos dois espetáculos este ano: O idiota – uma novela teatral, dirigido por Cibele Forjaz, que estreou no Rio de Janeiro no Galpão do Espaço Tom Jobim, no final de junho e O idiota – primeiro dia, dirigido por Fábio Ferreira, que está em cartaz no Parque das Ruínas. A apresentação dessas duas encenações em um curto espaço de tempo proporciona uma experiência reveladora da relação entre as artes, no caso, entre o romance e o teatro. O olhar sobre as especificidades das duas leituras da obra do escritor russo aponta ainda para outras formas de artes que se misturam e se confrontam na fatura das encenações. Assim, se cria uma agradável sensação de reconhecimento, por parte do espectador, de que ele, em contato com a encenação, está em um território não completamente demarcado no qual não se pode dizer – isso é teatro, ou isso é música, ou isso é cinema. O espectador se entende como um construtor. A crítica que Daniele Avila escreveu sobre O idiota – uma novela teatral revela uma particular relação do espectador com o tempo que o teatro pode proporcionar. No espetáculo O idiota – primeiro dia, a orientação de um foco sobre o tempo aparece já no título e se desenvolve ao longo da encenação, criando às vezes esferas de relação com o tempo e a leitura do romance, com os modos de apreensão das fábulas, com os de apreensão daquilo que é visível e com a da linguagem cinematográfica.