Sentada na plateia da sala Garrett, do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, na penúltima fileira do lado direito da plateia, com duas cadeiras ao meu lado, demarcadas com cintas de isolamento, minha bolsa, pesada, sob uma delas, eu aguardo o início da apresentação da nova Coleção de Raquel André, de Espectador_s.

Enquanto aguardo, me pergunto se fiz bem em sair de casa nesses tempos pandêmicos, eu que tenho ânsias de esganar as pessoas que estão pelas ruas desavergonhadamente aglomeradas e sem máscaras, como se nunca tivessem ouvido a palavra pandemia na vida. Me sinto irresponsável por estar ali, descompromissada com a atitude ética que, acredito, devemos ter com as mais de 600 mil vidas ceifadas pelo genocida do meu país, com a não menos pior condição dos indianos, dos africanos (em todo o continente), das pessoas nos países onde a vacina ainda demora, ainda tarda, ainda não chega, com os 48 concelhos portugueses em risco muito alto (naquele momento eram 48; hoje, quando escrevo, já são mais de 115, e a contagem só sobe; tomara que até a publicação ela diminua).