As marcas da crise política impressas em quatro jovens que se encontram em um lugar indeterminado, vestindo tshirts com capuzes e orelhinhas de bicho. Seus corpos mostram uma movimentação nervosa e exaustiva, que é o resultado do horror que aparece quando o que nos forma (o pensamento intelectual, a política, a economia, as relações sociais) se revela como motor de nossa própria decomposição. A este homem moldado pelas injunções sócio-político-econômicas restam também alguns momentos de petrificação, como último recurso de resistência ou, talvez, como um breve estágio que antecede sua morte. É com este imaginário que o Colectivo 84/Penetrarte de Portugal, companhia dirigida por Mickael de Oliveira e John Romão, coloca em cena as repercussões e os possíveis enfrentamentos diante do atual estado das coisas. Suas insinuações à escatologia e ao sexo mecanizado, seu humor debochado de si e dos outros e o retorno a um estado quase animalesco parecem ter a intenção de figurar uma maneira de lidar com o mal-estar gerado pela violência, pela condição de expropriação e de alienação do homem. A sociedade de consumo tem nádegas na cabeça que eliminam coca-cola: insumo e produto do pensamento intelectual.