Autor Jorge Louraço

Reveja-se no rosto do outro

25 de abril de 2016 Críticas

Vol. IX, nº 67 abril de 2016 :: Baixar edição completa em PDF 

Resumo: O espectáculo resulta do embate entre o original de Pasolini e a realidade do grupo XIX e da Vila Maria Zélia. A cena é uma arena invertida, com o público no centro, em bancos rotativos, e os atores em todas as entradas e saídas. O rosto que fica sem vida e o acto de observar a morte são figuras recorrentes, fazendo do espectáculo um estudo sobre o olhar. A impossibilidade e a necessidade de representar a violência é uma das contradições expostas, que revela o papel dos espectadores no processo.

Palavras-chave: ponto-de-vista, figura, justiça poética

Resumo: The show comes from the clash between Pasolini’s original work and group XIX and Vila Maria Zélia reality. The scene is an inverted arena, with the audience in the center, on rotative benches, and the actors in all the entrances and exits. The lifeless face and the act of watching death are recurrent figuras, making the show a study on watching. The impossibility and the necessity of representing violence is one of the contradictions exposed in the show, which reveals the spectators role in the process.

Keywords: point-of-view, figura, poetic justice

 

É-me difícil comparar este Teorema 21, do grupo XIX, com o Teorema de Pasolini a partir do qual se formou — nem me interessa por aí além avaliar a fidelidade deste trabalho ao original. Não se trata de uma cópia, nem de uma interpretação, nem de uma versão, mas de um trabalho novo, diferente, que se apresenta como distinto do outro. Aliás, a relação ambivalente da peça do XIX com esse ponto de partida do qual se pretende distanciar o mais possível, mantendo ainda assim uma relação de parecença, está posta logo no início do espectáculo, num prólogo onde se apresenta um excerto do filme de Pasolini, ao qual se sobrepõe uma voz off que vai colando, a essas imagens projetadas, o entorno da sede do grupo, na Vila Maria Zélia, ou pelo menos um entorno similar, imaginário, e o que estiver acontecendo àquela hora, naquele lugar. Esse discurso de abertura inclui a possibilidade de atualização da fala:

Rodeado de ilha por todos os lados

25 de abril de 2016 Críticas

Vol. IX, nº 67 abril de 2016 :: Baixar edição completa em PDF

Resumo: Nesta peça, o ponto de vista é dado por um navio, uma poita e um suicida. A acção decorre numa ilha, ao longo de três gerações, de duas famílias, cujos destinos se cruzam. Enquanto as personagens da 1ª geração tomam conta dos seus destinos, e as da 2ª geração se resignam, as da 3ª mal se distinguem dos destinos da ilha e do navio. Como alegoria, Cais mostra um impasse coletivo.

Palavras-chave: Ponto de vista, Formação supressiva, Destino, Dívida

Abstract: In this play, the point of view is given by a ship, an anchor and suicidal young man. The action takes place on an island, over three generations of two families whose fates intersect. While the characters of the 1st generation take fate on their hands, and the 2nd generation ones are more or less resigned, the 3rd ones barely distinguish themselves from the island and the ship fates. As an allegory, Cais shows a collective impasse.

Keywords; Point-of-view, Suppressive formation, Destiny, Debt

 

O ponto de vista póstumo, do narrador morto, preside à apresentação dos factos do enredo da peça Cais — ou da indiferença das embarcações, de Kiko Marques. Logo no início do espectáculo, três figuras presentes em cena nos dão essa chave de leitura: um navio, que será afundado, de nome Sargento Evilázio, interpretado por um velho ator; uma poita, a que está amarrado o navio, chamada Rosiméri, uma jovem atriz; e um rapaz em aparente transe, o médico Walciano, que se suicidará para se unir ao barco pelo qual tem uma fixação, esse mesmo navio Evilázio.

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