Tag: Miwa Yanagisawa

Se uma janela se abrisse

24 de dezembro de 2015 Estudos

Vol. VIII n° 66 dezembro de 2015 :: Baixar edição completa em pdf

Resumo: A radicalidade da dramaturgia de cena em Nada, uma peça para Manoel de Barros evidencia relações intrínsecas entre opções realizadas em processos de criação e qualidades da fruição teatral. Nesse caso, o que é sempre uma dentre muitas condições pensadas para relações próprias ao teatro, aqui opera como eixo para o percurso criativo e orienta a constituição geral da cena. Vestígios, lembranças e relatos sobre os processos servem como materiais para tecer este estudo de caso que considera pontos de vista diversos, e costura memórias próprias da autora às memórias alheias, de alguns dos criadores desta obra.

Palavras-chave: processos de criação, processos de fruição, dramaturgia de cena, Nada, uma peça para Manoel de Barros

Abstratct: The radicalness of Nada, uma peça para Manoel de Barros‘ dramaturgy puts on evidence the intrinsic relationship between choices of creative processes dealing with qualities of theatrical fruition. In this case – something that would be one among many conditions to the theater relationships – operates as an axis for the creative path and it guides the general constitution of the scene. Traces, vestiges, memories and reports over the processes are serving as materials to write this study of case, considering different points of view, and to articulate some memories of the authoress with others’ memories – creators of Nada’ memories.

Keywords: creative processes, fruiton processes, scene dramaturgy, Nada, uma peça para Manoel de Barros

 

E se uma janela se abrisse numa sala preparada para uma festa familiar, onde juntos estão seis atores-anfitriões que atuam como quem pertence a uma mesma família e mais cerca de trinta convidados? E se nesta sala houvesse uma janela para se abrir, e por onde fosse possível olhar as condições do tempo, o céu e seus sinais, se há nuvens pesadas para uma madrugada de chuvas fortes; a rua e seus movimentos às vezes desconexos; se há um passageiro sonhando distraído naquele ônibus que cruzou a rua de trás do edifício; se um cão fareja algo para comer nesta noite; se uma estrela cadente atravessa o céu para ouvir pedidos de felicidade – enquanto aquelas personagens se enredam em causos e tarefas cotidianas? Se uma manifestação popular toma as calçadas e ruas do bairro, enquanto nesta sala um universo inteiro vai se revelando por meio de conversas ora triviais e tensas, ora bastante líricas? Se, afinal, enquanto transcorre esta reunião entre alguns que se conhecem e outros completamente desconhecidos a pretexto de uma peça teatral tivéssemos como ver e, portanto, saber quais outros eventos se dão para além desta sala e destas minúcias de acontecimentos, da intimidade por vezes velada, e por frestas escancaradas desta família; agora que já nos situamos no espaço cênico, e estamos na festa do aniversário de seu patriarca, ritualizado para nós convidados, e conosco, e por nós que resolvemos assistir a este Nada, uma peça para Manoel de Barros, numa noite de agosto ou setembro, no SESC Belenzinho, região leste de São Paulo, capital?

Mistérios da fala no corpo

23 de junho de 2012 Críticas
Foto: Ismael Monticelli.

Um modo de fazer o mundo surgir, ou dito de outra maneira, a plasticidade do sensível na linguagem. É possível dizer assim do trabalho de arte da peça Nada. Talvez ainda não apareça neste texto uma escrita capaz de se haver com o prazer melancólico que se pode ter com a imagem-tempo da encenação. Mas uma hipótese possível, ainda que cheia de fraturas, é a de que o mundo mostrado pela conjugação entre a poesia de Manoel de Barros e a poética criada pelos irmãos Fernando e Adriano Guimarães em parceria com a diretora Miwa Yanagizawa, dramatiza o conflito do conhecimento numa dupla tensão entre o sensível e o mundo das imagens que trabalha com o desmonte visual das coisas, com o teor de desestabilização da palavra poética do poeta.

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A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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