Foto: divulgação.

“…fingindo, passam então as histórias
a ser mais verdadeiras que
os casos verdadeiros que elas contam…”

(Memorial do Convento p.134).

Introdução

O presente estudo tem como objetivo confrontar o texto literário de O Memorial do Convento, escrito por José Saramago, com o texto dramatúrgico homônimo adaptado por José Sanches Sinisterra e Christiane Jatahy em 2003.

O interesse está em observar como se deu a transformação de um texto originalmente literário para uma estrutura dramática e em que pontos a obra inicial se modificou com a transição para a cena. A intensão deste estudo é corroborar com a hipótese levantada pela Drª Maria Helena Werneck, professora da Escola de Teatro e do departamento de Teoria Teatral da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). Werneck afirma que a forma mais antiga de transposição do texto da literatura para o teatro interfere na estrutura narrativa com a adoção de princípios dramáticos, como a presença dos personagens, como lastro psicológico ou tipologia social, do diálogo intersubjetivo e do conflito. A permanência do realismo cênico está, no entanto, abalada pela fonte literária, que interfere na analogia entre verdade e ficção, oferecendo-se uma ficção anterior como referência. A ideia de “teatro como quadro fiel do que se passa no mundo”, acaba refratada duas vezes, pela materialidade do texto literário e pelo suporte da materialidade cênica, criando uma forma de intertextualidade, que pode se apresentar mais ou menos explícita no texto adaptado ou na cena construída.