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Confidências do marquês no dia em que morreu
A José Roldán
(Confidencias do Marqués el día em que se murió, de 1988, estreia em 1990 sob direção de Sergio Arrau e interpretada pelo ator peruano José Roldán.)
Personagem: Francisco Pizarro.
Lugar da ação: Múltiplo. Cenário nu ou com praticáveis.
PIZARRO: (Aparecendo, espada na mão). Sem-vergonhice! Na minha própria casa? Filhos de ventre ruim, agora vão ver! (Luta furiosamente). Bando de malparidos! Nunca tive medo da morte. Venham, venham miseráveis!
(É ferido e cai. Depois de um momento se incorpora e se dirige ao público.)
O que está dizendo? O que que eu tenho a ver com o meu pai! Interessa se ele foi ladrão ou nobre? Que tenha morrido num convés… ou em casa, rodeado de choronas? A mim isso nem interessa. Jamais o conheci, de maneira que estou, soberanamente, nem aí.
Discurso do marquês no dia em que se analisou
Introdução
O dramaturgo chileno-peruano Sergio Arrau (Santiago de Chile,1928) escreveu a peça para um só ator Confidencias del Marqués e dia que se murió [1] em Lima no ano de 1988. Nessa mesma cidade, a peça foi estreada em 1990 sob a direção do próprio Arrau. A personagem única é Francisco Pizarro, um dos três sócios na empresa da conquista do império Inca. A ação da peça ocorre em 1541, no curto período de tempo que transcorre entre o momento em que ele foi ferido no pescoço e a sua morte. Esta peça dramática é uma entre muitas outras em que Arrau dialoga com a história peruana. Nela o autor elabora uma versão pessoal sobre a controversa personagem de Francisco Pizarro e a apresenta sob a forma do monólogo de um moribundo que vê a si próprio nos seus instantes finais.
O presente trabalho se propõe como uma leitura da mencionada peça a partir de conceitos pertencentes à metodologia de análise do discurso. Assim, e sem passar pelo crivo da teoria e da técnica dramatúrgicas, explorar-se-á nas possibilidades que os instrumentos analíticos pelo mencionado âmbito de reflexão oferecem para uma abordagem alternativa ao texto de literatura dramática. As noções de instituição, lugar da escrita, condições de produção, comentário, interdição, tipologia, porta-voz, efeito de sentido e interação (entre o escritor como enunciador e o espectador como enunciatário) serão discutidos a partir das contribuições de Michael Foucault, Eni Orlandi e Pierre Bourdieu. Também, recorrer-se-á aos teóricos teatrais Jean-Pierre Ryngaert e Patrice Pavis, cujas abordagens ao texto teatral entendido como discurso encontram-se em corcondância com os conceitos desenvolvidos pelos mencionados estudiosos. Finalmente, no que se refere à figura de Francisco Pizarro contar-se-á com o aporte do reconhecido historiador peruano José Antonio Del Busto Duthurburu, um dos maiores pesquisadores sobre a vida do conquistador espanhol.