O festival artCENA está configurando um continente de atravessamentos entre processos artísticos disciplinares que provocam desestabilizações em nossos modos mais tradicionais de classificação. A noção de perspectiva se dá a ver como um fenômeno em que o espectador passa a operar como construtor por meio da extensão do olhar e do estabelecimento de um jogo de trocas entre aquele que vê e do que é observado. O lugar de realizador da montagem mental que o espectador passou a frequentar na modernidade vai dando espaço para uma participação material que cria fluxos inesperados. A materialidade em experiência conta, de maneira cada vez mais evidente, com a corporeidade dos espectadores. A noção tradicional de drama fechado ganha complexidades outras por meio da criação da ação em ato. No teatro, repercute o fato da dança ter passado a investigar, já há algum tempo, a ideia de dramaturgia como um tecido de tensões que permeiam suas performances. Podemos ver influências dessa linguagem na sublevação da noção de personagem e na transformação temporal da ação dramática. A dramaturgia passou a se configurar como um tecido mais frágil. Uma das implicações que as artes plásticas trouxeram foi em relação às possibilidades de remissão não imediata que os objetos operam em favor de uma inscrição de mediação com os referenciais. Outra poderia ser a flexibilização do tempo de fruição. Ainda podemos falar do lugar das substâncias e das formas.