O projeto Teatro na Justiça, dirigido por José Henrique, procura investigar obras “fundamentais para a compreensão de valores da Justiça” e apresentar os resultados deste trabalho em forma de “espetáculo-leitura”. O processo, em cartaz no Teatro Maison de France, adaptação da obra homônima de Franz Kafka, é a segunda dessas produções que é transformada em encenação para o circuito teatral. A primeira obra encenada foi A pane, de Friedrich Dürrenmatt. Essas duas escolhas parecem apontar para a discussão de valores surgidos na modernidade que fizeram frente aos modelos metafísicos que defendiam princípios eternos e objetivos. No contexto moderno pós-metafísico, o homem precisa operar suas próprias leituras e arriscar sentidos para a história. Esse pensamento parece caro ao projeto do Teatro na justiça, sobretudo por ter fundamentado seu trabalho na relação entre teatro e literatura, que pressupõe operações de releitura, tanto por parte da adaptação dramatúrgica quanto da direção, dos atores, dos procedimentos cênicos, e conseqüentemente, do público. Portanto, a releitura, ou seja, a construção própria da história, parece ser uma das perspectivas possíveis para analisar o espetáculo.