A série de entrevistas Histórias do Corpo é um projeto de conversas sobre histórias do corpo no Brasil, assim no plural, porque são muitas as suas versões, e muitos também os caminhos para onde apontam. Sem perder de vista as contaminações de outras culturas, a colonização, as insurgências e lutas nelas implicadas, as histórias são contadas por artistas, pesquisadores, e artistas-pesquisadores, porém sem uma preocupação com a história cronológica de causa e efeito, no sentido do que vem antes e o que deveria vir depois. Buscamos ouvir algumas experiências com certo recuo no tempo, para deslocar e colocar em perspectiva acontecimentos do passado que ressoam no presente.

O projeto é concebido por Ivana Menna Barreto em parceria com Daniele Avila Small para a Revista Questão de Crítica.

 

Marilza, obrigada pela disponibilidade em dar esta entrevista. Vamos conversar um pouco sobre a sua pesquisa teórica e prática das danças afro-brasileiras. O samba se originou em comunidades afrodescendentes, primeiro num contexto rural na Bahia, no Recôncavo, no séc. XIX, e depois no Rio de Janeiro, num contexto urbano, mantendo uma característica comunitária. Tia Ciata, por exemplo, foi uma das “tias” baianas que saíram de Salvador para o Rio fugindo das perseguições policiais ao Candomblé, para se instalarem na Praça Onze, na Cidade Nova. A casa de Tia Ciata foi celeiro de grandes compositores e, ao mesmo tempo, lugar de divulgação de sambas novos. A história do samba é uma história de resistência comunitária?