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Refleti, em outra ocasião, a respeito das dimensões de presença produzidas por certos espetáculos dos anos 2000, criados a partir de um estreito vínculo entre o teatro e as novas tecnologias. A peça-chave para tal análise (1) foi Não sobre o amor, de Felipe Hirsch e a Sutil Companhia de Teatro; uma peça de câmara cuja coesão cênico-dramatúrgica – que não deve ser lida, sob nenhuma hipótese, como unidade de ação – considerei bastante significante. Vou explicar rapidamente porquê.

Grosso modo, o espaço cênico é uma caixa que recebe, ao longo da peça, projeções exatas de seu tamanho, criando sobreposições espaciais e ambiguidades de presença fabricadas pelo ator e por sua derivada metamorfose, tanto corporal quando visual. O fato de este procedimento, i.e. a produção – ou a intensificação – de variações de presença, não ser encarado como mero artifício pirotécnico se deve, em especial, à sua íntima relação com a dramaturgia. O texto é composto por fragmentos epistolares do escritor russo Victor Schlovski (ou Chklovski) quando em seu exílio em Berlim. Agrupado por temas, o texto enfatiza o isolamento de um sujeito desgarrado de sua terra natal, distante de sua amada. Tão significativo quanto esta situação é o fato de Schlovski ser o precursor, em âmbito literário, de Bertold Brecht no conceito de estranhamento ou “desfamiliarização” – noção mais comumente conhecida, por nós, brasileiros, pelo termo distanciamento.