Críticas
Lap Dance: processo artístico por meio de aforismos sobre a provocação

Sobre o espaço convencional da expressão teatral, o palco, a atriz portuguesa Tânia Dinis busca a arte da performance como meio de expressão para as suas ideias. A tríade básica da expressão cênica está ali – atuante, texto e público –, mas o elemento de “organização pelo self”(1), exibindo o ego pessoal da artista, assim como o acaso, presente principalmente na manifestação da performance, atribui o diferencial desta ação, a qual reforça o quanto a performance se encontra mais próxima do teatro do que das artes plásticas.
Traços de um mapeamento afetivo

Susuné, recente pesquisa cênica da atriz Carolina Virgüez, sob a direção de Antônio Karnewale, é uma potência, é uma necessidade de transformar o espaço de atuação numa área de livre trânsito, onde os vetores da memória são lançados nas mais variadas direções, onde se concentram fluxos alternados de temporalidade, resgate e recriação do passado, densidades, sonoridades e ritmos de voz, de som e de fala estrangeiros. Trata-se de um solo em que se denota uma inquietação bastante peculiar da atriz na concepção e realização de um projeto autoral, no sentido de trazer, para o plano estético, elementos que entrelaçam à ficção muito de sua vida particular, onde a personagem se confunde com a sua intérprete, ou melhor dizendo, onde a intérprete se coloca na situação de personagem de sua própria existência, tanto na Colômbia, país de origem de Virgüez, como no Brasil.
Inventário de afetos viventes

O espetáculo Estamira – beira do mundo, em cartaz no Porão da Casa de Cultura Laura Alvin, é uma criação em conjunto da diretora Beatriz Sayad com a atriz Dani Barros a partir do filme Estamira de Marcos Prado. Tanto o filme quanto o espetáculo nos mostram singularidades que surgem na vida por meio de atitudes sempre em desvio. Modos de estar que são atravessados pelas determinações dos sistemas e instituições, porém teimam em criar seus próprios percursos de transgreção e de constituição de sentidos inesperados. Assim é que parece se formar a ideia de personagem – e o motivo pelo qual somos atraídos ou distanciados dele – porque são evidências de ações. Talvez seja nossa constante maneira de significar a subjetividade em um endereçamento ao mundo. Entendo que a força da peça Estamira está em sua composição que deixa entrever a conflituosa região de convívio entre as construções ficcionais e o que normalmente consideramos o real. Esse movimento criou um potente uso do material original do filme.
Personagem e espetáculo em busca de identidade

Identificado, inicialmente, como H., o protagonista de Baseado na rua de trás não tem acesso aos códigos de funcionamento da cidade onde se encontra. Mais do que dificuldade de estabelecer comunicação com os que estão à sua volta, H. parece perdido num mundo estranho. A cada situação é exposto como um indivíduo à parte, desintegrado. Não se trata apenas de negociar com uma ordem estabelecida, mas de precisar se enquadrar, o que o leva a um afastamento de seus próprios desejos e, em última instância, de sua identidade.
O texto externado

Em cartaz no Poeirinha até fevereiro, o espetáculo Mulheres sonharam cavalos dá continuidade à parceria entre a atriz e tradutora Letícia Isnard e o diretor Ivan Sugahara, que em 2011 trouxeram à cena carioca textos contemporâneas de autores argentinos. O primeiro, A estupidez, de Rafael Spregelburd, estreou em abril, com a Cia. Os Dezequilibrados, no CCBB. O segundo é o texto do espetáculo em questão, de Daniel Veronese, encenado por um grupo distinto, que envolve componentes da Cia. e outros atores.