Críticas
Expressões que traduzem impressões

Meire Love – uma tragédia lúdica foi escrita pela dramaturga cearense Suzi Élida e dirigida por ela e Yuri Yamamoto. A peça trata do delicado tema da exploração sexual infantil. A história é sobre Meire, uma menina que, crendo nos búzios, tem fé de que um príncipe encantando estrangeiro vai tirá-la da miséria e levá-la para o exterior. Quando seu plano é descoberto, ela aparece morta. Sua coragem é exemplo para as colegas de rua que passam a discutir sobre as possibilidades que lhes restam, enquanto esmolam e prostituem-se pela orla de um balneário.
Trama e vertigem em exposição

O romance O idiota de Fiódor Dostoièvski inspirou pelo menos dois espetáculos este ano: O idiota – uma novela teatral, dirigido por Cibele Forjaz, que estreou no Rio de Janeiro no Galpão do Espaço Tom Jobim, no final de junho e O idiota – primeiro dia, dirigido por Fábio Ferreira, que está em cartaz no Parque das Ruínas. A apresentação dessas duas encenações em um curto espaço de tempo proporciona uma experiência reveladora da relação entre as artes, no caso, entre o romance e o teatro. O olhar sobre as especificidades das duas leituras da obra do escritor russo aponta ainda para outras formas de artes que se misturam e se confrontam na fatura das encenações. Assim, se cria uma agradável sensação de reconhecimento, por parte do espectador, de que ele, em contato com a encenação, está em um território não completamente demarcado no qual não se pode dizer – isso é teatro, ou isso é música, ou isso é cinema. O espectador se entende como um construtor. A crítica que Daniele Avila escreveu sobre O idiota – uma novela teatral revela uma particular relação do espectador com o tempo que o teatro pode proporcionar. No espetáculo O idiota – primeiro dia, a orientação de um foco sobre o tempo aparece já no título e se desenvolve ao longo da encenação, criando às vezes esferas de relação com o tempo e a leitura do romance, com os modos de apreensão das fábulas, com os de apreensão daquilo que é visível e com a da linguagem cinematográfica.
Sonhos de um palhaço

O espetáculo foi assistido noII Festival de Teatro de Itajaí, SC.
Quando todos os espectadores já estão em seus lugares, um palhaço grita efusivamente da plateia que está ansioso por assistir ao espetáculo que, por sinal, já deveria ter começado. Depois da frustrante informação de que o circo desistiu de vir se apresentar, pois aceitou uma oferta maior de outro produtor, Zabobrim, inconformado, aceita entreter o público. Este é o prólogo do espetáculo Circo do só êu, escrito, dirigido e encenado por Ésio Magalhães.
Uma produção do Barracão de Teatro de Campinas, este espetáculo faz parte do longo trabalho como palhaço de Ésio, que se apresenta para seu respeitável público no II Festival de Teatro de Itajaí com essa paródia do Cirque Du Soleil.
A densidade da palavra na voz de Fernanda

Monólogo estruturado a partir da permanência em cena de uma atriz (sentada, valendo-se de econômica movimentação) durante uma hora de duração, Viver sem tempos mortos evidencia uma assinatura através de aparente invisibilidade. Felipe Hirsch, distante do registro de muitos dos trabalhos realizados na Sutil Cia. de Teatro – nos quais materializa a investigação da memória em texturas diversas das cenografias e na construção de uma atmosfera auxiliada por refinados recursos de iluminação –, aposta, dessa vez, no vigor interpretativo de Fernanda Montenegro. Uma opção que não determina a anulação de uma visão diretorial. A “presença” de Hirsch pode ser detectada na importância destinada à palavra, nas sutis gradações de luz (iluminação a cargo de Beto Bruel) que recortam o rosto da atriz no decorrer da apresentação, na neutralidade do figurino e na quase ausência de elementos cenográficos (direção de arte de Daniela Thomas). Elementos que se somam na afirmação da plataforma de um teatro calcado na síntese, na contramão do espetacular.
Fidelidade às diretrizes do Tapa

Espetáculo apresentado há 11 anos, Contos de sedução reúne algumas das características desenvolvidas pelo Grupo Tapa ao longo do tempo. Através dos seis contos de Guy de Maupassant, Eduardo Tolentino de Araújo reafirma o destaque ao texto, um dos nortes da companhia no decorrer de seus mais de 30 anos de trajetória. Também perpetua a investigação acerca do modo de funcionamento das classes sociais, em especial no que se refere à moral da aristocracia, dissecado em encenações anteriores. Propicia, dessa vez, uma reflexão acerca da eventual atualidade de códigos de conduta (ou da subversão deles) que datam da segunda metade do século XIX.