Críticas

Nem tudo é memória

24 de junho de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

O saudosismo tradicionalista e sua necessidade de fixar as coisas no tempo. E o medo da perda, que faz pensar que a transformação é unicamente um tipo de morte não desejada. A sociedade dá abrigo aos melancólicos, e isso é bom. Mas os discursos se confundem e muitas vezes o empenho por preservação, torna-se uma tentativa de conservação em modo estático.

Recai sobre os registros e fragmentos do passado este esforço (pessoal e institucional) por “conservação”. O discurso de manutenção da memória está espalhado em muitas instâncias sociais, e na maneira mais estatal lança-se mão do “patrimonialismo” quando algo adquire um valor simbólico e julga-se que deva ser preservado – no Rio de Janeiro, por exemplo, os vendedores de mate da praia são “Patrimônio Cultural e Imaterial da Cidade”. A demanda por patrimonialização, ao que parece, aumenta e alarga suas fronteiras a cada dia. Mas tem duas categorias que tem suas formas de expressão carimbadas como patrimônio histórico, cultural, imaterial, etc., há muito tempo: a arquitetura e as manifestações da “cultura tradicional”.

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O aventureiro das mil e uma noites

23 de junho de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

O livro das mil e uma noites é uma coleção de histórias e contos populares originárias do Médio Oriente e do sul da Ásia, compiladas em língua árabe. Sua origem não é exata, mas os primeiros registros de sua existência datam da segunda metade do século IX. A obra passou a ser mundialmente conhecida a partir de sua tradução para o francês pelo orientalista Antoine Galland em 1704. O livro das mil e uma noites transformou-se em um clássico da literatura mundial. Dentre os diversos contos e histórias que compõe o livro podemos destacar as aventuras de Aladim, de Sherazade e de Simbá, o marujo.

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A sinceridade e a limitação do relato emotivo

18 de junho de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

Novo trabalho do Grupo Garimpo, Tudo sobre minha avó se inscreve numa vertente de encenações recentes que buscam um registro de atuação transparente a partir da fala em primeira pessoa dos atores. Este projeto, como outros, investe numa quebra da hierarquia entre intérpretes e espectadores. Não por acaso, é realizado em espaços reduzidos e destinados a uma plateia concentrada.

Vale citar iniciativas que vêm percorrendo essa trilha, ainda que não de maneira semelhante. Em Ficção, reunião de monólogos da Cia. Hiato, cada ator discorria diante do público sobre acontecimentos de suas vidas, evidenciando o modo como se apropriaram dos fatos (portanto, como ficcionalizaram as experiências). Em Estamira, a atriz Dani Barros entrelaçava a jornada da personagem-título, realçando a lucidez contida em seu processo esquizofrênico, com o doloroso elo com a própria mãe. Em A alma imoral, Clarice Niskier se colocava frente aos questionamentos lançados pelo rabino Nilton Bonder em atuação destituída de vícios de declamação ou impostação. Em A falta que nos move… ou todas as histórias são ficção, os atores portavam a primeira pessoa, o que não significava que fossem os donos das histórias descortinadas.

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Vermelho: um Rothko anti-rothkiano

9 de junho de 2013 Críticas
Foto: Ivan Abujamra.

“Marc Rothko: É claro que eu fico meio deprimido sim, quando eu penso em como as pessoas vão ver minhas pinturas. Elas vão ser cruéis. Vender uma pintura é como mandar uma criança cega para dentro de uma sala forrada de giletes. Ela vai se machucar.”

John Logan, Vermelho

Em Hannah e suas irmãs, de Woody Allen, somos brindados com uma breve sequência em que Frederick, o circunspecto pintor vivido por Max Von Sydow, recebe em seu ateliê a visita de Dusty Fry, um jovem e milionário astro do rock. Dusty acabara de comprar uma “casa enorme” em Southhampton, bairro chique no subúrbio de Nova York, e estava à procura de obras de arte. Logo ao chegar, querendo talvez conquistar a simpatia do pintor, ele diz que recentemente tinha adquirido obras de Andy Wahrol e Frank Stella. Frederick lhe mostra então dois belos desenhos de sua mulher, Lee, nua. Mas Dusty mal olha para eles. Retruca que precisava de obras maiores, já que tinha “muitas paredes vazias”. Frederick, irritado, responde que seu trabalho não é vendido a metro, mas, pressionado pela mulher e pela falta de dinheiro, aceita mostrar seus óleos para o possível comprador. Este, depois de vê-los, pergunta ao pintor se ele não teria quadros marrons que pudessem combinar com o seu sofá. Frederick explode e berra que arte não é decoração. O jovem roqueiro, incapaz de compreender por que nem tudo estaria disponível para um endinheirado simpático como ele – “todo canalha é simpático”, dizia Nelson Rodrigues –, vai embora sem comprar nada.

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A matéria da marginalidade

8 de junho de 2013 Críticas
Foto: Paulo Caruá.

Lauande Aires assina, dirige e atua na peça O miolo da estória, integrante do Festival Palco Giratório de 2013, promovido pelo SESC. O ator também se responsabiliza pela música, pelo figurino e pela cenografia do espetáculo, incorporando o que parece ser uma dramaturgia de um homem só. Longe de propagar a ideia de que este espetáculo teatral se fez apenas com o esforço de Lauande, gostaria de desenvolver a ideia da concentração, ou ainda da condensação, do fenômeno teatral no corpo de um só homem, de um só personagem, de uma só história. Isso porque o espetáculo parece se estruturar na unicidade do protagonista João, perscrutando as motivações e utopias de um pedreiro / brincante (1) de boi bumbá, na mesma medida em que descortina um universo pessoal, um “miolo” pessoal, o homem João Miolo — sugestivo nome pelo qual o personagem se dá a conhecer.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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