Autor Daniele Avila Small

O que é, mais uma vez, a crítica?

10 de junho de 2008 Estudos

Problemática, polêmica, ameaçada de falência e de estar à margem do seu próprio universo de atuação, ela não se cala. Sob olhares desconfiados por todos os lados ela permanece, há séculos, como pedra, sobrevivendo aos que não lhe querem. Maldita, é infalível e independente. Se não há mais lugar para ela aqui, encontra acolhimento ali, transita, transmuda, se move. A crítica não está falida, não está morta e pertence mais ao mundo da arte do que muitos eventos que se autodenominam artísticos. Ela está apenas em crise. Bom para ela: este é o seu habitat natural.

Podemos nos perguntar “o que é a crítica?” e formular respostas diversas, calcadas na etimologia, nas origens históricas do seu surgimento, na aplicação do termo em estudos filosóficos. De qualquer forma, seria difícil não concluir que a crítica é característica indissociável do pensamento do homem moderno. A atitude crítica é uma forma de estar no mundo que é própria ao nosso tempo. Enquanto estivermos por aqui, ela também vai estar. E sempre que houver algum tipo de soberania em jogo, ela vai ser um problema.

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Mosaico de atuações

10 de junho de 2008 Críticas
Foto: Guga Melgar

Na peça O Jardim das Cerejeiras de Anton Tchekhov, dirigida por Moacir Chaves, uma primeira imagem se coloca para o espectador: um mosaico de tapetes entremeados de pequenos retângulos de grama artificial está estendido sobre o chão e pode ser visto desde o momento em que o público entra no teatro. Ao longo da peça, o mosaico permanece sempre em cena e às vezes ganha um tratamento especial da iluminação. É possível fazer associações entre os recortes de tapete e de grama que coexistem naquela imagem e as diferentes formas de ver o mundo que convivem na peça. O cenário e a iluminação apresentariam, dessa forma, uma metáfora para a fábula.

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Para revidar o olhar

10 de maio de 2008 Críticas
Atores: Adriano Garib e Miwa Yanagizawa. Foto: Guga Melgar.

Em cena, três atores e duas atrizes se dividem em personagens diversos. A situação com a qual a peça se inicia parece conduzir o percurso: o personagem Artur (Adriano Garib), na ocasião do seu aniversário e em meio de uma crise, num momento em que questiona sua trajetória de vida e suas prioridades, revê sua relação com o filho (Fabio Dultra), tendo a namorada deste (Julia Lund) como aliada para uma aproximação. Ele se relaciona com uma mulher imaginária (Miwa Yanagizawa) e com um amigo (Otto Jr), com quem vai realizar um projeto: listar situações em que pessoas estão sendo observadas sem saber, pessoas que vemos, mas que, a princípio, não nos olham. Como observamos na primeira lista que o amigo traz, o critério que guia o olhar é absolutamente subjetivo.

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Formas inscritas

10 de maio de 2008 Críticas
Atores: Leonado Medeiros e Arieta Correa. Foto: Carol Sachs.

A peça de câmara da Sutil Companhia de Teatro inicia a sua relação com o espectador, através do título, com a palavra “não”. Não sobre o amor. Algum “não” se dá também quando o trabalho é apresentado como peça de câmara. Se esta é a primeira peça de câmara do grupo, os artistas envolvidos no trabalho estão, de certa forma, dizendo um pouco de não para um jeito de fazer teatro que eles já conhecem e que já sabem fazer. Se este novo trabalho demanda outro formato, dizer “não” para os procedimentos familiares é dizer “sim” a esta demanda. Dizer “não” pode ser o começo de algo, não um fim. O “não” do título também carrega um “sim” implícito, um “sim” inevitável. O espetáculo fala sobre o amor, mas não simplesmente sobre o amor: fala sobre formas de expressão e sobre falar (ou não) sobre o amor.

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Imagem e discurso

15 de abril de 2008 Críticas
Gabriela Carneiro da Cunha. Foto: Divulgação.

O espetáculo Todo o tempo do mundo, realizado pelo Studio Stanislavski, instala a cena e a platéia dentro do palco do Teatro Maria Clara Machado, formando um outro espaço circular. A cenografia de José Dias intervém efetivamente no ambiente, criando um novo lugar. O espaço de atuação se descola da arquitetura daquele teatro. No centro, um tablado redondo que gira sobre o seu próprio eixo é o suporte para a linha diretriz da trama: o tempo em que um homem ficou preso, os sonhos que teve, sua relação com estes sonhos e a conclusão que se pode tirar desta história. Em torno do pequeno círculo/cela, outro se forma pela disposição intercalada de cadeiras para o público e espaços para as cenas. A divisão entre estes espaços é feita por um véu escuro e pela iluminação. As cenas que acontecem nestes espaços, que às vezes se assemelham a pequenos nichos, apresentam os sonhos do homem que está deitado em seu catre – percebemos esta relação logo de início pois as cenas no círculo exterior só acontecem enquanto o personagem que está no centro dorme.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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