Críticas

Na contramão do distanciamento analítico

25 de abril de 2010 Críticas
Atores: Denise Del Vechio e Marcos Caruso. Foto: João Caldas

Um texto como As pontes de Madison desponta como legítimo exemplar do que talvez possa ser classificado como teatro de identificação direta. Robert James Walter, autor do romance que deu origem ao filme protagonizado por Clint Eastwood (também diretor) e Meryl Streep e à peça em cartaz no Teatro dos 4 (adaptada por Alexandre Tenório), criou uma história que suscita empatia imediata no leitor/espectador: a da súbita paixão entre Robert Kinkaid, fotógrafo da National Geographic em visita ao Iowa, e Francesca, dona de casa acostumada à rotina de um casamento acomodado. Walter não mobiliza o público “apenas” ao falar sobre o impasse entre um sentido de obrigação em manter a família unida (tendo como exigência a continuidade de um cotidiano pouco estimulante) e a coragem de partir rumo ao desconhecido e ao risco. O poder de conquista do autor se expressa, sobretudo, no momento em que aborda a delicada questão dos irrealizados sonhos de juventude, do degrau entre sonho e realidade.

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A expressividade da sugestão

23 de março de 2010 Críticas
Foto: Lenise Pinheiro

Há um apagamento e, ao mesmo tempo, uma evidenciação do fazer teatral em Hamelin, montagem de André Paes Leme para o texto de Juan Mayorga. De um lado, o diretor demonstra a preocupação em investir numa cena neutra, impressão confirmada pela utilização funcional de elementos básicos (mesas e cadeiras), pela opção por cores discretas (predominância do preto) e por figurinos despojados, diretamente importados do cotidiano. Do outro, os atores não ocultam do público a construção da cena. Manipulam objetos e o som, produzem atmosferas, lêem rubricas e transitam, quase sempre, entre diferentes personagens.

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Conexões históricas e atemporais

19 de março de 2010 Críticas
Atores: Emílio de Mello e Fernando Eiras. Foto: Dalton Valério.

Se o teatro é uma arte efêmera, uma das possibilidades da crítica será a de exercer sua memória. Memória do transitório. Esse poderia até ser o título desse texto, na medida em que escrevo de memória sobre uma peça que dá forma a temporalidades distintas. Este novo olhar sobre a peça só pode ser incorporado no seu sentido mais estrito tendo em vista o fato de sua atualidade. In On It está em cartaz em São Paulo no Teatro FAAP e fará uma incursão na próxima edição do Festival de Curitiba. Este contexto me fez refletir a respeito do potencial que existe em rememorar – termo mais específico ainda quando os fatos passados transitam por meio da linguagem. Quando narramos o evento passado, ele não aparece na sua forma integral ou fidedigna, mas sim, atravessado pelo momento presente que, ao mesmo tempo, resulta de outra série de acontecimentos decorridos.

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Ritmo, estratégia crítica

19 de março de 2010 Críticas
Ator: Leonardo Corajo. Foto: divulgação.

Para falar sobre Manifesto Ciborgue, pode-se partir de diferentes pontos como, por exemplo, o ensaio de Donna Haraway A Cyborg Manifesto: Science, Technology, and Socialist-Feminism in the Late Twentieth Century. Não é disso que se trata essa tentativa de aproximação. Mas duas coisas podem ser pescadas desse título/referência: a questão “manifesto” e o fato de que este espetáculo não toma como ponto de partida uma fábula, uma pesquisa formal ou a experimentação de um modo de fazer, mas dá uma pista de que seu ponto de partida é uma questão, um problema, por assim dizer, do mundo. Ou ainda, parece que o espetáculo parte do conceito mesmo de ciborgue.

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Diálogo inventivo com a tradição

19 de março de 2010 Críticas
Atriz: Gilda Nomacce (em foco). Foto: Nelson Kao.

A imagem do título suscita as razões e as emoções sampleadas em O ruído branco da palavra noite. Um espetáculo para escutar, nem tanto para ver – uma contradição em partes, plenamente amparada na saudação incondicional ao teatro.

O espetáculo da Companhia Auto-Retrato ergue-se sob uma atmosfera poética austera na forma e um atavismo humanista transbordante no conteúdo. Sua concepção é assertiva, invulgar em todos os elementos que elege para a cena e conectada ao espírito revolucionário de uma época: um corte profundo na paisagem teatral da Rússia sacudida por transições socialistas e comunistas naqueles anos de virada dos séculos XIX para o XX.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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