Críticas
Sweet Tiger Lili à deriva

Sete desconhecidos, Michel (Bruno Ferrari) um advogado sem escrúpulos, Arthur (Camilo Bevilacqua) um médico sofisticado, a soturna Letícia (Fernanda Nobre), o comandante Tadeu (Leandro Almeida), a dona de casa Ana Paula (Luciana Magalhães), o vigarista Erik (Pablo Falcão) e a professora Vic (Paloma Duarte) recebem um misterioso convite para um jantar a bordo da embarcação Sweet Tiger Lili. Atendendo ao estranho chamado e movidos, sobretudo, pela curiosidade, as personagens embarcam e descobrem que durante o encontro alguém entre eles deverá morrer. Diante desta situação, o grupo descobre que a razão de estarem todos ali é a realização de um julgamento extrajudicial que pretende descobrir qual dentre os presentes é o culpado por um crime acontecido três anos antes. Na tentativa de identificar um culpado, os presentes vão aos poucos revelando que todos ali são mais do que aparentam ser e as máscaras das personagens caem com o desenrolar dos fatos. Todos os passageiros a bordo do Sweet Tiger Lili podem ser culpados ou inocentes. É tudo uma questão de ponto de vista.
No silêncio, a voz muda

O que o diretor Pedro Freire construiu em sua montagem da peça Outros tempos de Harold Pinter foi uma maneira de dar visibilidade às forças que, embora naturais do caráter humano, aparecem veladas por serem demasiado intrínsecas. Outros tempos, que esteve em cartaz no mês de julho no teatro SESC Copacabana, é uma peça que, sem recorrer a flashbacks, amarra as linhas do tempo num instante presente. A medida que os nós vão sendo atados, mais perceptível a cadeia de relações vai se tornando, porém nunca sendo completamente explanada. O projeto que possibilita a visibilidade dessas forças depende da edificação de três níveis de relação. A tarefa do diretor de equacionar um provável contato entre esses níveis é determinante para a definição dos eixos em torno dos quais a peça gira.
Atitudes diversas diante do clássico
Daniel Veronese demonstra posturas diferentes em relação ao texto clássico nas montagens de Los Hijos se han Dormido e Un Tranvía Llamado Deseo, ambas em cartaz em Buenos Aires. A primeira resulta de uma operação dramatúrgica sobre A gaivota, uma das grandes peças de Anton Tchekhov; a segunda surge no palco como versão cênica destituída de ambições autorais de Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams.
Em Los Hijos se han Dormido, Veronese dá continuidade ao processo de apropriação de peças de Tchekhov, projeto que o público brasileiro já viu materializado através da encenação de Espia uma mulher que se mata, versão para Tio Vânia. Dessa vez, o diretor propõe, como interferência mais evidente, a supressão da cena da apresentação da peça de Treplev, o inconformado filho da diva Arkádina, que apresenta um teatro distante dos padrões instituídos.
A burguesia é branca

Está em cartaz, até o dia 27 de julho, no Espaço SESC em Copacabana, o espetáculo As regras da arte de bem viver na sociedade moderna, escrito pelo francês Jean-Luc Lagarce, com atuação de Lorena da Silva e encenação de Miguel Vellinho. Apresentado no Espaço Bar, área cênica reservada para experimentações de caráter mais intimista (o espetáculo comporta somente trinta e dois espectadores), a linguagem da encenação produz reflexão que, por meio da ironia, retrata o jogo de interesse que esclarece a essência da filosofia de vida na sociedade capitalista-burguesa, onde as relações de privilégios e regalias entre as elites estruturam-se solidamente em laços perpétuos de comunhão “fraternal” ou “amorosa” nos sacramentos da Igreja Católica.
Uma companhia e seu Brecht

A Companhia Ensaio Aberto comemora 18 anos de uma trajetória teatral com uma marca bem delimitada em seus trabalhos, um teor político marcadamente épico na forma que busca dialogar diretamente com a obra do dramaturgo alemão Bertold Brecht. O autor alemão é influência assumida e inspiração central para o grupo carioca. É possível vislumbrar sua história no projeto Armazém da Utopia com a qual a companhia ocupa o Armazém 6 do Cais do Porto do Rio sob o patrocínio da Petrobrás. No grande galpão de frente para a bela baía de nossa cidade, há fotografias, instalações com os objetos cênicos dos espetáculos, vídeos e a cenografia inteira do premiado Missa dos quilombos (com ações de performers, que trazem o espírito do espetáculo). A exposição revela um repertório preocupado com as questões políticas, como das minorias excluídas historicamente (os negros, os retirantes nordestinos, os loucos e etc.). Ela coloca esse discurso como um guia dos trabalhos do grupo e da própria ocupação do armazém da Praça Mauá.