Críticas
Na memória do lar, um trabalho coletivo

Estar diante de um objeto artístico que é fruto da formação acadêmica nunca deixa de ser um ato judicativo, embora muitas vezes nos surpreendamos com um olhar mais complacente, já que estamos diante de jovens cavando seu espaço profissionalmente. Acredito que se abra uma espécie de possibilidade maior para os erros e fragilidades de uma obra que é construída por quem ainda está começando a se inserir no quadro profissional das artes cênicas. Como se um espaço maior para a possibilidade do erro – entendendo o uso do termo da forma mais ampla e dialética, já que, acredito, não há certo e errado na arte e sim tentativas que se sustentam e outras mais frágeis, que não suportam o peso da exposição pública – se abrisse de antemão ao nosso olhar. Fico muito feliz quando vejo um trabalho de jovens recém formados (o que se estende a toda a ficha-técnica, desde diretor, atores, figurinista, cenógrafo e produtor) que antes de “acertar o alvo” ou de fazer um trabalho que se pretende “acabado” experimenta suas novas formas de criação teatral, evidenciando uma postura artística e uma forma singular de fazer teatro.
Distanciamento para abordar a intimidade

A natureza íntima de um projeto como o de Luis Antonio-Gabriela, que desembarcou no Rio de Janeiro para duas apresentações no Tempo Festival das Artes, gerou a necessidade de distanciamento, característica que marca a montagem. Disposto a trazer à tona a sua história familiar – em especial, a relação abortada com o irmão Luis Antonio, que, ao se tornar transexual, migrou para Bilbao, onde viveu durante mais de 20 anos afastado dos parentes mais próximos –, o diretor Nelson Baskerville se valeu de mecanismos de afastamento.
Dom Pedro II e as ruínas da História
No Teatro Municipal Procópio Ferreira, durante o XVIII Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente, o palco é todo coberto por uma lona de caminhão. Ao fundo, uma cortina branca. Nas laterais, formando quase um semicírculo, armários de arquivo de escritório. E ainda dois microfones. Um espaço indeterminado que remete a um escritório, um arquivo público ou um depósito. Este é o ambiente do 2º D. Pedro 2º, espetáculo da Cia. Les Commediens Tropicales, grupo de São Paulo/SP, que funde as linguagens da performance, do teatro e das novas mídias.
Dom Quixote e a invasão da poesia
O espetáculo Das saborosas aventuras de Dom Quixote de la Mancha e seu escudeiro Sancho Pança (um capítulo que poderia ter sido) inicia-se de modo inusitado para a maior parte do público que se aglomerava na praça Nove de Julho, no centro de Presidente Prudente, interior de São Paulo. Um grupo de jovens vestidas de noiva aparece inesperadamente, caminhando em direção a uma fonte, localizada no meio da praça. Lá, ocupando diferentes posições, assumem o aspecto de figuras estatuárias, fundindo-se à paisagem urbana e tornando-se objetos de contemplação para o público que passa, indaga e tira fotos.
Isto não é um espetáculo
O espetáculo Este lado para cima – isto é e não é um espetáculo, da Brava Companhia, de São Paulo/SP, apresentou-se na Praça Nove de Julho, de Presidente Prudente, nos dias 1 e 2 de setembro. Este foi um dos mais expressivos espetáculos desta edição do Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente.