Críticas

Entradas e desmoronamentos

24 de março de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

Fracasso, talvez. Digamos que a peça Adeus à carne ou Go To Brazil de Michel Melamed é atravessada por uma série de fracassos e desmoronamentos, cenas que deliberadamente parecem não se constituir de maneira sólida, como uma escultura em gesso que nunca se solidifica.

Organizada como uma escola de samba, a peça é mais um carnaval mal ajambrado e com a frieza própria aos carnavais que se tornaram a regra. Mas, diferentemente das escolas de samba, os personagens, na peça, estão sempre no limite do patético, do grotesco, do fracasso dos corpos e das tentativas de alguma relação entre eles e com algo que lhes escapa: a política, a mídia, o amor, a alegria.

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A família sob a perspectiva do teatro

1 de março de 2012 Críticas
Foto: Alessandra Haro.

A Companhia Brasileira de Teatro estreou em setembro de 2011, em Curitiba, Isso te interessa?, espetáculo que coloca em cena os atores Ranieri Gonzalez e Giovana Soar, como pais, e Nadja Naira e Rodrigo Ferrarini, como filhos, explicitando as difíceis relações no microcosmo familiar, em que uma viagem ao balneário francês de Saint Cloud é sempre aludida como esperança de felicidade. O texto da dramaturga francesa contemporânea Noëlle Renaud traz uma estrutura peculiar de falas intercaladas a rubricas dentro de uma mesma frase, que propõe aos atuantes um desafio constante de trânsito entre diferentes registros – desde a representação de personagem até a indicação direta das ações, com gradações de distanciamento. E esse entrar e sair dos personagens é intensificado pelo revezamento dos quatro atores no papel do cachorro da família, que observamos nos limites de um cenário em perspectiva.

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Sobreviventes na intermitência da luz

27 de fevereiro de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

Convencido de que o enigma exigia uma resposta, eu busquei na obscuridade.

(Georges Banu, in Avec Grotowski, 2011, p. 8 )

A peça Breu, em cartaz no Teatro III do Centro Cultural do Banco do Brasil até março e com direção de Maria Sílvia Siqueira Campos e Miwa Yamagizawa, dá a ver o encontro de duas mulheres em um contexto cotidiano de suas vidas, assoladas de modos distintos, pelas consequências da ditadura militar no Brasil. O texto de Pedro Brício expõe uma perspectiva temporal complexa que sugere indeterminações de passado e presente, configurações de fusões e de repetições que transfiguram um modo de pensar o tempo e, portanto, a história também. A história no caso de Breu é projetada para os espectadores pela vida dos vencidos, pelos pequenos acontecimentos no refúgio da casa, por meio de diálogos quase anódinos e entrecortados de duas personagens que deixam escapar uma tensão provocadora de um latente estado de suspensão que acompanha o que é desconhecido e que está enunciado no título. Essa qualidade de transfiguração de uma noção temporal na dramaturgia revela um autor que se firma por uma escrita elaborada capaz de revelar, sem eloquência, o intempestivo ocasionado por um acontecimento histórico-afetivo, como são todas as investidas de uma ditadura na vida dos indivíduos.

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Intraduzível

22 de fevereiro de 2012 Críticas
Nicole Cordery. Foto: Tatiana Farache.

O diretor Felipe Vidal, que já havia montado a peça Tentativas contra a vida dela, de Martin Crimp, continua sua relação com o autor inglês montando Duplo Crimp. Este é um projeto composto de duas peças, O campo e A cidade, ambas traduzidas por Daniele Avila Small, e que estiveram em cartaz no Teatro Gláucio Gill de 13 de janeiro a 13 de fevereiro.

É inevitável estabelecer, primeiramente, a ordem destas em relação a Tentativas. Sendo um marco na carreira e no estilo de Crimp, Tentativas fundamentou elementos dramatúrgicos que podem ser vistos em iminência na peça O campo e já bem explorados em A cidade. Vamos nos ater especialmente na construção das identidades de seus personagens e das questões postas aos atores para interpretá-los.

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Autenticidade de relatos desarmados

21 de fevereiro de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

Música para cortar os pulsos, montagem da companhia Empório de Teatro Sortido que vem angariando prêmios e repercussão em festivais (melhor espetáculo da FITA 2011, Prêmio APCA 2010 de melhor peça jovem), conquista pela exposição do relato sincero, disposto diante do público de maneira direta. O autor Rafael Gomes procura expressar a intensidade das emoções juvenis, a reverberação passional de embates amorosos a partir do sofrimento decorrente de uma separação, de um desencontro de expectativas em relação a alguém muito próximo, do temor do afastamento que esse descompasso pode levar, do medo frente ao desconhecido.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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