Críticas

As palavras de Pinter

20 de maio de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

Em cartaz no teatro do Centro Cultural dos Correios, A volta ao lar, sob direção de Bruce Gomlevsky, traz ao circuito teatral carioca mais um texto de Harold Pinter. Em 2008 foi encenada Traição, com direção de Ary Coslov, que está novamente em temporada no mesmo Teatro Solar de Botafogo. Em 2011, foi a vez de Outros tempos, dirigida por Pedro Freire.

A dramaturgia de Pinter sugere um mundo nebuloso e ao mesmo tempo mostra uma objetividade por meio das palavras diretas e vorazes que seus personagens carregam. Os diálogos são entrecortados por silêncios e pausas que ditam o ritmo da cena; as ações dramáticas parecem estagnadas, mas vêem carregadas de falas que iludem o entendimento do espectador (o não dito é mais presente diante do que se diz). O universo do autor no qual as falas escondem o enigma do “não dito”, personagens com subjetividades destituídas de afeto aparente, que se dão como seres ambíguos e vagos e a crueza com que as palavras violam o espaço – geralmente espaços fechados, sombrios, desgastados, como no caso de A volta ao lar – é um campo vasto, principalmente para a atuação.

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Jogo de espelhamento e oposição

19 de maio de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

De verdade – A mulher certa aborda relacionamentos conjugais não apenas a partir das evidências que comprovam onde marido e mulher se diferenciam problematicamente, mas também nos pontos em que se aproximam ou até se assemelham. De início, os desencontros vêm à tona, principalmente no que diz respeito aos modos distintos de percepção do mundo decorrentes da classe social a qual cada um originalmente pertence. A dependência amorosa e o medo da intimidade também se constituem como elementos que distanciam os personagens. Esses descompassos tornam as relações claustrofóbicas. Entretanto, a maneira de marido e mulher evocarem um casamento que chegou ao fim chega a ser similar, como se um estivesse espelhando o outro.

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Posse e destruição

17 de maio de 2012 Críticas
Foto: Paula Kossatz.

Como extrair dos clichês, imagens que digam do mundo em que vivemos? Essa é uma provocação de Amérika! que, dita de outro modo, propõe ao espectador a renúncia aos modos habituais de se relacionar com os elementos da cultura justamente por meio da incidência sobre o lugar-comum, sobre um saber que não nos pertence, já que perpassa gerações. Para dar a ver algo tão formador de nossas personalidades, como é o consumo, uma das possibilidades é jogar. O termo jogar aqui também tem a feição do brincar infantil. Esse brincar na criança é acompanhado pela imitação e pela inabalável crença no brinquedo. Quando a criança brinca transforma a função e a imagem das coisas num relance. Uma poética que se vale de algo em semelhança com o brincar pode oferecer um distanciamento que estimula a visão de uma duplicidade própria das coisas, uma espécie de dança entre o material original e o objeto elaborado. No caso de Amérika!, o trânsito de personagens e situações-clichês aponta para a crítica na medida em que não existe a crença absoluta nas tipificações – os atores brincam de brincar.

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O encontro com o novo público

13 de maio de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

A Cia. Razões Inversas faz temporada no teatro III do CCBB RJ com a peça A ilusão cômica. O texto do dramaturgo francês do séc. XVII Pierre Corneille até então inédito no Brasil ganha com a montagem da companhia de São Paulo o encontro do texto de um autor erudito à época com a base das técnicas de interpretação das comédias populares – principalmente da commedia dell’arte. Uma breve exposição histórica pode ser importante para entendermos como é interessante vermos a união destas duas formas hoje.

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O tom crítico da comicidade e da fantasia

13 de maio de 2012 Críticas
Foto: Rafael Bondi.

A Companhia Omondé, sob direção de Inês Vianna, encenou recentemente na Arena do Espaço SESC e no Galpão Gamboa a peça Os mamutes de Jô Bilac. Nesse primeiro texto do autor, escrito há dez anos, pode ser detectado um universo temático que seria abordado posteriormente em Serpente verde, sabor maçã (escrito em parceria com Larissa Câmara), que é uma forte crítica aos costumes de uma sociedade cada vez mais consumista e superficial, de uma infância tomada por prematura perversidade e crueldade, além de uma crítica à superficialidade nas relações afetivas nos dias de hoje (seja na esfera da família, das relações amorosas, ou entre amigos). Ambas são comédias negras carregadas de ironia e crueza, abordando o que há de mais perverso nas relações na sociedade de consumo exacerbado em que vivemos. Contudo em Os mamutes essa crítica é ainda mais eloquente e direta, provocando um riso nervoso do espectador diante das mais bizarras situações.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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