Críticas

O desejo de não parecer teatro

25 de dezembro de 2013 Críticas
Foto: Janderson Pires.

O pastor lança como proposta um desejo de ocultação do ato teatral ao procurar reconstituir, de maneira fidedigna, um culto evangélico, no que se refere ao registro interpretativo do elenco, aos figurinos e à ambientação espacial.

Em relação ao trabalho dos atores há uma inegável aproximação desse objetivo, tendo em vista o esforço em imprimir uma não-atuação, um apagamento dos códigos de representação. Existe um encaminhamento no sentido de fazer com que os atores se assemelhem a um pastor incendiário, sua assistente e um frequentador do culto.

CONTINUAÇÃO

Carpintaria – o drama e a cena (apontamentos e dúvidas)

25 de dezembro de 2013 Críticas
Foto: Leo Aversa.

Nota: O texto contém spoilers, ou seja, revelações a respeito do enredo.


A montagem do espetáculo Incêndios de Wajdi Mouawad (traduzido por Angela Leite Lopes) com direção de Aderbal Freire-Filho, em cartaz no Teatro Poeira, traz à tona o debate acerca da carpintaria da dramaturgia contemporânea que se constrói a partir de um eixo dramático nuclear edificador de toda a estrutura da fábula.

Se se entende ainda hoje o drama como um modelo abstrato que une num mesmo ponto o tempo, o espaço e a ação, a peça de Mouawad não deve ser considerada drama. Entretanto, se deixarmos de lado essa premissa radical do que seria o drama absoluto, rastrearemos modelos existentes no qual a unidade da trama da fábula percorre uma lógica causal (atravessando espaços e temporalidades diversos) culminando num núcleo dramático, em que a história acaba se apresentando através da integração de acontecimentos. Assim sendo, Incêndios deverá ser examinado como um drama cuja experiência fragmentária da contemporaneidade se costura em uma coesão dramática.

CONTINUAÇÃO

Do confinamento à convivência

26 de outubro de 2013 Críticas
Foto: Adriana Balsanelli.

Desde seu espetáculo de estreia, Hysteria, o Grupo XIX del Teatro tem construído uma linguagem cênica permeada pela interlocução sensível com o público, seja ao inseri-lo dramaturgicamente na ficção, seja pelo grau de intimidade e cumplicidade como ele é abordado pelos personagens a cada montagem.

Esse mesmo acento de pesquisa surge radicalizado no mais recente trabalho do grupo, Estrada do Sul, criado em parceria com a Compagnia del Teatro dell’Argine (Itália), com direção e dramaturgia do italiano Pietro Floridia. Após estrear em setembro, na Vila Maria Zélia, em São Paulo, onde fica a sede do XIX, o espetáculo fará nova temporada no mesmo local durante o mês novembro.

CONTINUAÇÃO

O inominável-divino-marginal

25 de outubro de 2013 Críticas

A universidade como espaço de diálogo, de cruzamento entre dramaturgias: ficcionais ou não. Esse foi o contexto proporcionado pelo FITU, Festival de Teatro Integrado da Unirio, que ocorreu entre os dias 2 e 6 de outubro de 2013. Dentro da programação, as pesquisas dos artistas Fernando Codeço e Caio Riscado, interligam-se aleatoriamente por um mesmo universo condutor: o das travestilidades. Aleatoriamente porque nem os artistas tinham consciência do potencial de diálogo travado entre seus trabalhos e nem o festival propôs esse encontro. Mas mesmo para o olhar não especializado era evidente o trânsito fluente do universo travesti na exposição Vênus nos espelhos de Fernado Codeço e na célula performativa Sonho Alterosa de Caio Riscado.

O momento parece ser propício para falar da questão. Com a proliferação da teoria queer pensar em existências e sexualidades explodidas de uma heteronormatividade vigente, pensar numa vida travesti autônoma e não transitória, impregnada no cotidiano do cenário-cidade, parece ser necessário como demanda para a universidade. Esses trabalhos ocupam um lugar importante na transposição de um olhar que encara o travesti como periferia-tabu para o de práticas de proximidade. A universidade funciona como lugar fronteiriço entre o público e o íntimo, a rua e a casa.

CONTINUAÇÃO

Da vontade de falar de si à confissão inventada

25 de outubro de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

Nas peças de conclusão de curso das escolas de teatro, pode-se dizer que os atores têm o principal trabalho para mostrar o que aprenderam ao longo do período de estudo. É comum que as turmas sejam numerosas e os atores estejam envolvidos nesta sensação de início de carreira, final da escola – emoções comuns de peças de formatura. Outra característica constante destas montagens são os textos densos, com personagens envelhecidos, cheios de passado, interpretados por jovens, meninos, que agarram de forma corajosa a tentativa de pôr na boca experiências de uma vida ausente neles. Estes personagens “clássicos”, “históricos”, “que todo ator bom quer fazer” são fantasmas nas costas dos atores recém-formados, que se lançam na busca por uma convincente “construção”.

A história do ator sofreu grandes transformações no século XX. Dentre a multiplicação dos métodos, das técnicas, dos encenadores e suas propostas de trabalho de ator, Brecht é fundamental para a formação da dicotomia que se mantém nos palcos até hoje. Sem fazer um aprofundamento justo ao tema, os atores decidem se no espetáculo serão ou não por um eu-ator visível em cena, ou seja, um ator que se deixa ver como tal, ou um ator desaparecido por detrás dos contornos do personagem. Novos atores. Outras gerações. A interpretação é o recurso formativo que o ator tem para mostrar seu pensamento e crítica sobre seu ofício, dizer a que conjunto/geração de atores pertence.

CONTINUAÇÃO

Edições Anteriores

Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

Edições Anteriores