Críticas

Primordiais espaços periféricos

28 de abril de 2011 Críticas
Um dia como os outros. Atrizes: Analu Prestes e Bianca Byington. Foto: Vicente de Mello.

Cozinha e dependências e Um dia como os outros, textos de Agnès Jaoui e Jean-Pierre Bacri, são ambientados em espaços periféricos. Nem a cozinha, onde se encontram os personagens na primeira história, nem o bar, onde estão os da segunda, despontam como lugares nobres, onde deveriam se desenrolar as ações de cada história. Os personagens se esbarram na cozinha para reclamar do andamento da reunião planejada para um convidado famoso, que não transcorre na sala exatamente conforme o planejado; e se encontram no bar para sair rumo a uma festa de aniversário, partida que, porém, acaba não acontecendo devido à eclosão de um conflito conjugal.

CONTINUAÇÃO

Imagens em confinamento: A tensão entre corporeidade e espacialidade

26 de abril de 2011 Críticas
Atriz: Ângela Dip. Foto: divulgação.

“Fazer isso, ligar o teatro à possibilidade da expressão pelas formas, e por tudo o que for gestos, ruídos, cores, plasticidades, etc, é devolvê-lo à sua destinação primitiva, é recolocá-lo em seu aspecto religioso e metafísico, é reconciliá-lo com o universo” (ARTAUD, 2006:77).

Apagam-se as luzes da plateia. Ao iniciar o espetáculo, o espaço sonoro é preenchido por uma voz feminina em off, suave, plena de potência e de vontades. Uma voz que deseja o mergulho no ar e por sobre as cataratas. Desejo de cortar o espaço de maneira vertical, de furar o bloqueio das possibilidades do entendimento. Entendimento sobre si e sobre aquele que assiste, sentado na plateia. Um pássaro que carrega o seu fardo, que deseja voar, mas está preso ao seu destino em terra firme. Objeto que prende. Barril que encerra sua presa dentro de si e por sobre si. Desejos em conflito. Conflito entre o que se ouve e o que se vê. Construção imagética que se mantém autônoma do significado lingüístico. Essa atmosfera poética é emanada para o espectador, que compartilha junto com os demais, as angústias e os temores de uma figura (não, necessariamente, um sujeito psicológico) que divaga uma série de questionamentos abstratos sobre a existência. Ouvimos a narração durante o blackout.

CONTINUAÇÃO

A incomunicabilidade entre pai e filho

26 de abril de 2011 Críticas
Foto: Jackeline Nigri.

O Homem que amava caixas (The Man Who Loved Boxes), texto do autor australiano Stephen Michael King – em cartaz no Teatro OI FUTURO Ipanema-, é a concretização de um desejo artístico do bonequeiro e ator Márcio Nascimento (integrante da criativa Cia Pequod, que encontrou na inquieta Cia. de Teatro Artesanal a parceria ideal para a realização deste sonho delicado e singular). A Artesanal, que já vinha pesquisando e dialogando nestes últimos três anos sobre as diversas formas de expressão do fazer teatral para a infância e juventude, sendo a mais recorrente o uso de bonecos em cena, na técnica de manipulação direta (dois exemplos disso são as encenações de A lenda do príncipe que tinha rosto, 2009, e O teatro da grande marionete, 2010), procura aliar o universo mágico dos títeres com a tradição mais original do teatro feito por atores de carne e osso. Integrando esses dois mundos em diversos formatos da técnica de manipulação direta entre bonecos e atores, atores e máscaras, atores que assumem o estado de boneco, eles não deixam também de dialogar com o cinema, uma das maiores características da Cia, que tem um admirador e estudioso da sétima arte à frente da direção dos espetáculos.

CONTINUAÇÃO

Espectros de Mozart

23 de abril de 2011 Críticas
Atores: Adriana Zattar e Roberto Birindelli. Fotos: Lina Sumizono.

Em cartaz no SESC Tijuca até o dia 1 de maio, A história do homem que ouve Mozart e da moça do lado que escuta o homem é uma peça que, ao escolher uma estética da crueldade, compartilha o desequilíbrio. Quando o diretor Luiz Antônio Rocha decide pôr em jogo as fragilidades privadas de forma crua, ele apazigua as inquietantes tentativas de homogeneização da normalidade como padrão de referência, tanto estética como eticamente. O que ele oferece é uma pequena revolução íntima, ao estilo da proposta de Antonin Artaud com seu Teatro da Crueldade. É preciso estabelecer desde já que o que parece aos olhos apolíneos uma tipificação pejorativa será para essa dramaturgia algo essencial e o estopim de uma conflagração subjetiva. Termos como crueldade, crueza e, mais à frente, desequilíbrio e deformação são o prenúncio de que algo novo será reconstruído sobre as carcaças dos personagens. A dinâmica positiva do Teatro da Crueldade é analisada no artigo publicado na edição de março de 2010, nesta revista – A noção de corpo sem órgãos em Artaud e no Teatro da Crueldade.

CONTINUAÇÃO

Um Galpão realista

22 de abril de 2011 Críticas
Foto: Bruno Tetto.

O Grupo Galpão se propôs a trilhar um território inesperado ao eleger uma peça de Anton Tchekhov como base de seu próximo espetáculo, o primeiro encontro com a diretora conterrânea mineira Yara de Novaes. Impelido pelo desejo de experimentar uma construção mais intensa de personagens, pôs de lado a tradição mambembe, popular e a comédia, que em 29 anos de trabalho coletivo entre atores rendeu seus maiores êxitos (como Romeu e Julieta, de 1992, Um Moliére imaginário, de 1997, ou o mais recente, Till – A saga de um herói torto, de 2010). Abandonada a zona de conforto – embora a constante rotativa de diretores convidados sobre a qual se funda a trajetória do grupo testemunhe contra a noção de conforto – para se lançar na experimentação de um teatro realista de fundo psicológico – estética relativamente inédita para os atores, ao menos nessa gradação.

CONTINUAÇÃO

Edições Anteriores

Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

Edições Anteriores