Críticas

O lugar do ressentido

30 de agosto de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

Um filho que esquarteja o pai. Poderia ser capa de um jornal sensacionalista. Ou notícia de um programa de televisão da tarde. Um acontecimento para uma semana de comoção nacional. Mas não é disso que se trata, do esquartejamento do pai, e sim dos motivos por detrás do ato. Cine-Monstro, traduzido por Bárbara Duvivier e pelo diretor Enrique Diaz do original Monster (1998), de Daniel MacIvor, é o terceiro texto do dramaturgo canadense que o diretor brasileiro põe nos palcos. In on it (2009) e A primeira vista (2012) são referência de como o autor organiza a dramaturgia: 1) período longo de tensão na vida das personagens; 2) perda do controle emocional e 3) final supostamente surpreendente.

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Quando o teatro encontra o circo

30 de agosto de 2013 Críticas
Foto: Ligia Jardim.

O que não é ligeiramente disforme parece insensível – donde decorre que a irregularidade, isto é, o inesperado, a surpresa, o espanto sejam uma parte essencial da característica da beleza. O Belo sempre é estranho.

Baudelaire

A inquietação de Fernando Neves em trazer à cena espetáculos apresentados em arenas circenses revela uma tentativa em investigar práticas teatrais que ao longo do tempo foram se transformando e, vai além, ao abordar uma história do teatro brasileiro muitas vezes renegada e cheia de lacunas. O grupo se propôs a uma pesquisa da teatralidade circense de 1910 a 1950, período em que o circo já se articulava com a produção teatral da época, apresentando um teatro que se confundia com a prática circense, para desenvolver uma linguagem bem particular e que foi modelo para as décadas seguintes.

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Roberto Alvim e o futuro do drama

27 de agosto de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

“Orestes: Eu, o mesmo, outro. Outros. Deuses, venham e falem. Estamos todos ouvindo.”

Ésquilo, Oresteia segundo Roberto Alvim

Ao longo de 2012, enquanto Alexandre Costa e eu elaborávamos no Rio de Janeiro a tradução e a adaptação da Oréstia, de Ésquilo, para a montagem dirigida por Malu Galli e Bel Garcia, o diretor e dramaturgo Roberto Alvim preparava, em São Paulo, na sede da sua Cia. Club Noir, uma adaptação de todas as tragédias de Ésquilo que chegaram até nossos dias. Além da Oresteia, o projeto de Alvim previa a encenação de Sete contra Tebas, Prometeu acorrentado, Os persas e As suplicantes. Assim, em uma rara coincidência no teatro brasileiro, a única trilogia do teatro grego que chegou integralmente até nós acabou por estrear quase concomitantemente no Rio de Janeiro e em São Paulo, no final de 2012. Nem preciso mencionar a curiosidade que me mordia de ver como Alvim havia resolvido as dificuldades com que a “obra-prima das obras-primas”, no dizer de Goethe, confronta qualquer um que se proponha a encená-la contemporaneamente.

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14.654 Tróias

27 de agosto de 2013 Críticas
Foto: Rany Carneiro.

Sentei-me sem perguntas à beira da terra,
e ouvi narrarem-se casualmente os que passavam.
Tenho a garganta amarga e os olhos doloridos:
deixai-me esquecer o tempo,
inclinar nas mãos a testa desencantada,
e de mim mesma desaparecer,
— que o clamor dos homens gloriosos
cortou-me o coração de lado a lado.

(Cecília Meireles. In: Mar Absoluto)

Guerras: Médicas; Púnicas; Hussitas. Das Rosas; Do Peloponeso; De Secessão e Sucessão. Dos 100, 13, 30 ou 80 anos. Mundiais. Ao longo de milênios, 14.654 guerras, – em permanente expansão numérica: intermitentes, ilimitadas, diplomáticas, de guerrilha; civil, revolucionária, subversiva, fria; nuclear, biológica ou química. A história do homem é também a história das guerras.

Retornar à Guerra de Troia, a mais emblemática das guerras de que se tem notícia. Embarcar em naus rumo aos episódios legendários, que nos chegaram pela via da poesia épica de Homero, de existência tão controversa e enigmática quanto à autoria de suas obras, inauguradoras da literatura ocidental: a Ilíada e a Odisseia.

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Mecanismos de descentralização

27 de agosto de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

A montagem de O controlador de tráfego aéreo reúne características do trabalho do diretor Moacir Chaves – frequentes antes da fundação da companhia Alfândega 88, com a qual se estabeleceu no Teatro Serrador. Possivelmente a conexão mais perceptível entre esse novo espetáculo e alguns anteriores resida na adoção como matéria-prima de elementos não só não teatrais como bastante áridos em suas concretudes. Em Bugiaria – realizado com a Péssima Companhia, coletivo capitaneado pelo diretor no final da década de 90 – um processo inquisitorial ganhou surpreendente transposição cênica. Em O jardim das cerejeiras, Chaves incluiu as rubricas da peça de Anton Tchekhov, ditas pelos atores durante a encenação. E em A negra Felicidade, já com a Alfândega 88, foi norteado pelos autos de um processo relacionado à reivindicação de uma escrava por sua liberdade.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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