Críticas
A Onda
Vol. VIII n° 66 dezembro de 2015 :: Baixar edição completa em pdf
Resumo: O texto apresenta algumas indicações de análise sobre a encenação em descompasso com o texto dramático a partir da peça Eles não usam tênis naique. A chave de análise do artigo, para além do interesse nos impasses da representação cênica, também se dirige para os impasses de representação política.
Palavras-chave: Política, representação, teatro, trágico.
Resumen: El artículo presenta el análisis sobre la representación con el texto dramático de la obra Eles não usam tênis naique. El artículo analiza impasses en la representación escénica y también se dirige al impasse de la representación política.
Palabras claves: Politica, representación, teatro, trágico.
Eu confesso: eu
Não tenho esperança.
Os cegos falam de uma saída. Eu
Vejo.
Após os erros terem sido usados
Como última companhia, à nossa frente
Senta-se o Nada.
O nascido depois, Bertolt Brecht
Em 1830, Katsushika Hokusai publicou uma de suas xilogravuras mais famosas, A grande onda de Kanagawa. A força da natureza é composta pela suspensão da onda que, como com garras, ameaça frágeis pescadores; no fundo da cena o monte Fuji, símbolo do Japão. A obra pertence a uma série de gravuras em madeira dedicada ao vulcão e encarna pela representação do mar, da terra, do fogo, elementos da alma nipônica. A harmonia entre as cores, a simetria do desenho, o Fuji integrado ao mar assim como os pescadores, suaviza sua fúria, ainda que a sensação do momento seguinte, aquele que escapa à representação, permaneça, paradoxalmente, no horizonte de expectativas. A estampa faz parte de um período nas artes da gravura conhecido como ukiyo-ê ou pinturas do mundo flutuante. Segundo Madalena Hashimoto Cordaro, as pinturas ficaram conhecidas no Ocidente pela repercussão em países como França e Inglaterra e compreenderam um período de fechamento das fronteiras japonesas, em uma era dominada pelos samurais, daí a referência a Era Tokugawa, centrado na cidade de Edo, entre os séculos XVII e XIX. O governo central promoveu certa estabilidade política contrastado a um passado de guerras; nesse momento a positivação da efemeridade assemelhava-se ao carpe diem. O ideograma de ukiyo-ê era, entretanto, recorrente há pelo menos três séculos e possuia um sentido diverso: que miserável, que triste é este mundo efêmero
Por que somos tão cavalos?
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Resumo: Aos 80 anos, Maria Alice Vergueiro realiza mais um experimento cênico radical e encena o próprio velório na peça “Why the horse?”. Este texto discute a influência de Brecht na constituição formal do espetáculo e investiga a possível concepção de imortalidade apresentada em cena.
Palavras-chave: Maria Alice Vergueiro, Brecht, Godard, Borges
Abstract: In Why the horse?, Maria Alice Vergueiro, 80 years old, proposes another radical scenic experiment and stages her own funeral. This text discusses the influence of Brecht in the formal construction of her experiment and investigates the particular conception of immortality brought to the scene.
Keywords: Maria Alice Vergueiro, Brecht, Godard, Borges
“A morte (ou sua alusão) torna os homens preciosos e patéticos. Estes comovem por sua condição de fantasmas; cada ato que executam pode ser o último; não há rosto que não esteja por dissolver-se como o rosto de um sonho. Tudo, entre os mortais, tem o calor do irrecuperável e do aleatório.”
Jorge Luis Borges
Em uma crônica publicada em 2008, Luis Fernando Veríssimo propõe um exercício espiritual que, mais ou menos inconscientemente, todos já realizamos alguma vez:
No filme La chinoise, de Jean-Luc Godard, um personagem se vê diante de um quadro-negro em que estão escritos os nomes de todos os principais escritores, compositores, pensadores e artistas da História – e começa a apagá-los, nome por nome, até sobrar um só. Está fazendo uma espécie de purgação intelectual. Experimente fazer o mesmo. Encha um quadro-negro com todos os nomes que lhe ocorrerem, sem nenhum tipo de ordem. Uma sequência pode ser, por exemplo, “Heródoto, Nietzsche, São Tomás de Aquino e Charlie Parker”, outra “Villa-Lobos, Strindberg, Marquês de Sade, Platão e Frida Kahlo”. Quando não sobrar espaço no quadro-negro nem para um nome curto (“Meu Deus, esqueci o Rilke!”), comece a apagar. Nome por nome. O importante é não racionalizar. Não estabelecer critério ou hierarquia. Deixar o apagador fazer seu trabalho sem interferência da sua consciência ou da sua emoção. Apenas ir apagando. Você pode descobrir coisas surpreendentes a seu próprio respeito. Nomes que, até aquele momento, faziam parte da sua galeria de veneráveis se revelarão apagáveis, outros serão poupados até quase o fim. E no fim, o nome que sobrar, o único nome que você não apagar, poderá ser a maior revelação de todas. Não será, necessariamente, o nome de quem você considera o mais importante, influente, valioso ou simpático da história das ideias ou das artes. Será apenas o nome que, por alguma razão, você não conseguiu apagar. Depois você só precisará se explicar para você mesmo. No filme do Godard, o único nome que ficava no quadro-negro era o de Brecht (VERISSIMO, 2008).
Clowns e gladiadores. Sobre o anacronismo de Filoctetes, de Heiner Müller.
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Resumo: O artigo discute a encenação da peça Filoctetes, de Heiner Müller, pela Companhia Razões Inversas, sob direção de Márcio Aurélio, na Funarte, em São Paulo. Analisa-se o anacronismo da justaposição de clowns e gladiadores, proposto por Müller como estratégia de encenação, assim como críticas de Christoph Menke à pretensão não trágica do teatro de Müller.
Palavras-chave: Heiner Müller, tragédia, teatro épico
Abstract: The article discusses Heiner Müller’s play Philoctetes, staged at Funarte in São Paulo by Marcio Aurelio and Razões Inversas. It analyses the anachronism of the juxtaposition of clowns and gladiators, proposed by Müller as a staging device, as well as Christoph Menke’s criticism on Müller’s claim to a non tragic theater.
Keywords: Heiner Müller; tragedy; epic theater.
Como seria encenar uma tragédia grega no circo? Restaria algo do destino heroico ao ser arrastado para o picadeiro? Ou o esforço cairia no ridículo, tal como o palhaço, que cai para se levantar e cair novamente, repetindo o número até seu efeito se esgotar? Tamanho anacronismo foi pensado pelo dramaturgo e encenador alemão Heiner Müller como um modo de discutir os pressupostos da tragédia clássica e sua relação com o teatro recente. Sua reformulação do Filoctetes de Sófocles, elaborada entre 1958 e 1964, busca investigar, pela convocação de clowns para os papeis de gladiadores, a distância entre dois tempos. Em apontamentos sobre a peça, o autor diz: “O cômico na apresentação provoca a discussão de seus pressupostos. Só o clown coloca o circo em questão. Filoctetes, Odisseu, Neoptólemo: três clowns e três gladiadores em suas visões de mundo” (MÜLLER, 2005, p. 158). Se o clown provoca estranhamento, o mesmo se pode dizer do gladiador. Tal denominação para o guerreiro grego anuncia os traços romanos – o Estado e o direito – da Grécia clássica de Müller. Com material extemporâneo, constrói-se uma moldura para colocar o destino trágico em perspectiva. Mais que encenar um texto antigo, trata-se de confrontá-lo com as condições de encenação. Tal distanciamento perante a ação dos heróis gregos já vem preparada, na peça mesma, por um prólogo que tem o tom da advertência, senão da zombaria.
Um teatro de afetos
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Resumo: Breve análise de quatro espetáculos que fizeram parte da programação do Exploraciones Escénicas, evento que reuniu críticos de diferentes países para interagir com o teatro de Buenos Aires no 10º FIBA – Festival Internacional de Buenos Aires 2015. As peças analisadas são: Cinthia Interminable, Terrenal – pequeño misterio ácrata, Cactus Orquídea e La máquina idiota. A proposta é abordar o teatro portenho como um teatro de afetos.
Palavras-chave: Teatro de afetos, teatro portenho, dramaturgia contemporânea, dramaturgia argentina
Resumen: Breve análisis de cuatro espectáculos que formaban parte de Exploraciones Escénicas, un evento que reunió críticos de diferentes países para interactuar con el teatro de Buenos Aires en 10º FIBA – Festival Internacional de Buenos Aires 2015. El artículo habla de los siguientes espectáculos: Cinthia Interminable, Terrenal – pequeño misterio ácrata, Cactus Orquídea y La máquina idiota. La propuesta es pensar el teatro porteño como un teatro de afectos.
Palabras-clave: teatro de afectos, teatro porteño, dramaturgia contemporánea, dramaturgia argentina
É um prazer poder ver o teatro de Buenos Aires em Buenos Aires. Tive a oportunidade de assistir no Rio de Janeiro e em São Paulo a algumas peças nos últimos anos, mas assistir a elas na cidade em que foram criadas é uma experiência completamente diferente. Como vemos todas as coisas em relação a outras que já conhecemos, minha recepção das peças do FIBA (no recorte das nossas atividades no Exploraciones Escénicas) estão emolduradas pela minha experiência anterior com o teatro portenho, que vou expor brevemente.
Anotações de viagem: FIAC 2015
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English version: https://www.questaodecritica.com.br/2016/04/notes-along-the-way-fiac-2015/
Resumo: O texto tece considerações sobre o pensamento curatorial que estrutura o festival, realizando uma análise dos espetáculos a partir de cinco categorias transversais: cartografia, corpo, musicalidade, mostra baiana e espectador. Tais categorias representam possíveis recortes na programação do evento, podendo ser lidos de maneira autônoma, sem pretensão de esgotamento das relações entre os trabalhos artísticos.
Palavras-chave: FIAC Bahia 2015, cartografia, corpo, musicalidades, espectador
Abstract: Remarks about the curatorial thought of FIAC, Bahia’s international festival of theater arts and performance. For the 2015 edition, the text analyses the works through a series of five horizontal concepts: cartography, body, musicality, local plays and spectator. These categories represent different and independent ways of looking at the festival’s program, without exhausting other possibilities of critical thinking among the works assembled.
Keywords: FIAC Bahia 2015, cartography, body, musicality, spectator
Durante os dez intensos dias do Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia – FIAC 2015, assistimos a dezoito trabalhos de artes cênicas oriundos de cinco estados brasileiros – Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Distrito Federal – e de quatro outros países além do nosso – França, Espanha, Bélgica e Itália. A quantidade de obras somada a esta abrangência geográfica foram desafiadoras desde o início para a escrita deste texto.
Frente ao programa impresso do evento, circulamos à caneta, na tentativa de abarcar toda a programação, a rotina dos nossos próximos dias. Ainda assim, dois trabalhos não puderam ser vistos – Biomashup (de Cristian Duarte, SP), devido à sobreposição de horários e Clean Room – 2nd Season (de Juan Dominguez, Espanha), por razões que serão esclarecidas mais à frente.