Críticas

O Festival de Curitiba e o teatro da cidade

1 de novembro de 2016 Críticas

 

Claudete Pereira Jorge em Pinheiros e precipícios. Foto: Marcelo Almeida.
Claudete Pereira Jorge em Pinheiros e precipícios. Foto: Marcelo Almeida.

A proposta deste breve artigo é fazer uma reflexão sobre a edição de 2016 do Festival de Curitiba. A partir da atividade Encontros de Crítica que a Questão de Crítica e o Horizonte da Cena realizaram a convite do festival, quatro textos são publicados, cada um com um olhar diferente. A ideia de publicar os textos alguns meses depois do festival responde a uma necessidade diversa daquela que muitas vezes orienta a produção textual sobre teatro, a da resposta imediata. Com essa demora, permitimos que a mediação do tempo atue sobre a memória e nos permita pensar sobre o festival sem as implicações do calor da hora.

A atividade principal dos Encontros de Crítica foi uma série de debates feitos depois das peças. A cada dia, quatro críticos se dividiam em dois espetáculos para conversar com artistas e espectadores depois das apresentações. A ideia era propor uma aproximação entre artistas e espectadores. Pela dimensão do festival, que sempre prima por uma grande quantidade de espetáculos de toda sorte, fica muito presente a sensação do teatro como evento. O gesto de chamar para a conversa propõe outro tipo de relação espectador e obra, uma relação de escuta e de partilha, uma relação que se demora e cria vínculo. O convite para permanecer no teatro depois da peça enfatiza a importância da presença e da atenção do espectador no acontecimento do teatro, da necessidade real da troca entre artistas e espectadores.

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Peça de resistência

12 de outubro de 2016 Críticas

Rio, 15.09.2016

Querida Grace,

se eu tivesse mais tempo, escreveria uma carta de só duas páginas, mas, como não tenho, sou forçado a escrever uma carta mais longa. Desculpe, a edição vai ter que ficar por tua conta.

Já faz um tempo que vi a estreia de Vaga carne, no Festival de Curitiba; e também já faz um tempinho desde que revi aqui no Rio, no SESC Copacabana. Nas duas vezes, pudemos depois ficar juntos um pouco, e falar da vida, essa “farpa de madeira intensa”, como você disse tão bonito um dia. Quando acontece isso, de eu ver um espetáculo e depois sair com quem fez, sempre sinto um pudor de falar do que estou sentindo. Não tem a ver com ter gostado ou não gostado. Também não tem a ver com o nível de intimidade que tenho com a pessoa. Tem mais a ver, acho, com uma certa fé na fermentação.

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O rumor também é um deus

25 de abril de 2016 Críticas

Vol. IX, nº 67 abril de 2016 :: Baixar edição completa em PDF

Resumo: O texto parte do conceito grego de rumor como forma de acessar o princípio formal da peça e, nesse processo, tecer considerações sobre as possibilidades de resgate do mito grego no teatro e sua relação com o cenário político atual.

Palavras-chave: rumor, mito, Minotauro, política

Abstract: The text brings the Greek concept of rumor as way to access the formal principle of the play and, in the process, makes considerations about dramatic and political treatments of the Greek myth today.

Keywords: rumor, myth, Minotaur, politics

 

Faz assim; e foge ao terrível rumor dos mortais,

pois o rumor é mau, rápido para se criar

com grande facilidade, penoso para suportar, difícil de deixar de lado.

Nenhum rumor se destrói completamente quando muita

gente o divulga: é que ele também é um deus

(HESÍODO, 2012, p. 137).

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Reconstruções em Mamãe

25 de abril de 2016 Críticas

Vol. IX, nº 67 abril de 2016 :: Baixar edição completa em PDF

Resumo: Provocado pela noção psicanalítica de construção, este ensaio crítico debaterá questões dramatúrgicas, clínicas e políticas na peça Mamãe, de Álamo Facó.

Palavras-chave: dramaturgia, clínica, política, reconstrução

Sommaire: Déclenché par la notion psychanalytique de construction, cet essai critique discutera des questions dramaturgiques, cliniques et politiques dans la pièce Mamãe, de Álamo Facó.

Mots-clés: dramaturgie, clinique, politique, reconstruction

 

“Seu trabalho de construção, ou se preferir, de reconstrução assemelha-se muito à escavação, feita por um arqueólogo, de alguma morada que foi destruída e soterrada (…)”

Sigmund Freud, Construções em análise. 

Em Construções em Análise, texto escrito em 1937, Freud questiona-se acerca da posição do analista no trabalho psicanalítico: enquanto o analisando é levado a lembrar-se de algo que foi por ele experimentado e recalcado, qual seria a tarefa do analista? A conclusão, segundo Freud, é que o analista deve completar aquilo que foi esquecido pelo analisando, mais precisamente, construí-lo. Nesse sentido, a tarefa do analista não é apenas realizar interpretações mas, de fato, em encontro com o analisando realizar uma construção ou uma reconstrução.

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Planos, partitura e dramaturgia: o naturalismo e a confissão da carne

25 de abril de 2016 Críticas

Vol. IX, nº 67 abril de 2016 :: Baixar edição completa em PDF 

Resumo: O presente ensaio pretende discutir a montagem de O abajur lilás, de Plínio Marcos, construída pela Vil Companhia de Teatro, que teve grande repercussão na cena contemporânea carioca. Para isso, enfrenta-se o naturalismo do texto de Plínio Marcos, a relação metafórica deste com a ditadura brasileira, e a criação de um texto corpóreo enriquecido pela encenação de Renato Carrera.

Palavras-chave: naturalismo, planos narrativos, textocentrismo, dramaturgia do corpo, discurso da carne, crítica

Abstract: This review discusses the staging of Plínio Marcos’ O abajur lilás by Vil Companhia de Teatro, who had great repercussion in the Rio de Janeiro contemporary theatre scene. The staging faces the naturalism of Marcos’ text, the metaphorical link between the play and brazilian dictatorship, and the creation of a corporeal text added by Renato Carrera’s direction.

Keywords: naturalism, narrative plans, text centrism, body’s dramaturgy, flesh’s discourse, criticism

 

A montagem de O abajur lilás dirigida por Renato Carrera marca a comemoração dos 80 anos de nascimento do dramaturgo Plínio Marcos e o surgimento da Vil Companhia de Teatro, idealizada pelo diretor e por Andreza Bittencourt, uma das atrizes do grupo. Para além da comemoração do aniversário do autor e do surgimento de uma nova companhia, algumas questões merecem ser destacadas na montagem: a comunicação da peça de Plínio Marcos hoje e o processo de atualização da obra edificada pelo grupo.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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