Autor Phellipe Azevedo
Arame farpado: deu caô na federal
Por um bom tempo eu fui Phellipe Azevedo de Alvarenga e parte de apenas um lado da minha família. Parte da família da minha mãe e hoje eu sou muito parte dela. Como minha mãe eu sempre fui da rua. Existia nela o desejo de estar com o outro, uma troca constante com a rua. Os vizinhos não eram desconhecidos, eles eram parte formadora dela e da minha educação. O coletivo foi presente na minha construção, fui criado na rua e sou dela. A rua se estabeleceu como a grande inteligência e sagacidade de transformação do meu ser e do meu entorno. Existia na minha mãe uma inteligência de se estabelecer com o outro. E esse diálogo com o outro, forma e transforma. Aprendi com ela a construção desta sabedoria: o conhecimento que vem da rua.
Caju. Rua C. Almoço. Desenho. Pique lata. Polícia e ladrão. Descalço. Corrida de tampinha. Circuito. Mapeamento de todas as ruas. Esconderijo. Festa na cozinha da vó. Garrafão. Carniça. Salada mista. Pique-Esconde. Jogo de tabuleiro. Nintendinho. Bicicleta. Patins. Inventar. Criar. Sujar. Juntar. Corpo. Coletivo. 19h. Jantar. Calçar. Chinelo. Dormir. Acordar. Escola. Odiar.
Sou Phellipe Azevedo de Alvarenga/Souza. Cria da favela do Caju, especificamente da Manilha.
Chegar à faculdade pública era uma determinação. Em algum momento eu tinha certeza que pertenceria àquele espaço. Só não sabia que demoraria. E que o processo para chegar naquele lugar me dominaria com o sentimento de “emburrecimento”, apesar de toda sagacidade que acreditava ter. Foram 4 anos de diversas listas e nunca encontrar meu nome na lista dos aprovados do vestibular. Mas entrei para universidade pública, fiz parte da primeira turma em que a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) aceitou o ENEM como único processo de seleção.