Autor Daniele Avila Small
Recortes

Desde outubro deste ano, os grupos Coletivo Improviso e Pequena Orquestra organizam a Operação Orquestra Improviso (www.operacaorquestraimproviso.blogspot.com), ocupação do Teatro Gláucio Gill, com uma programação variada de teatro e dança, com apresentações de cenas curtas, performances, oficinas e espetáculos que fazem parte do repertório de integrantes desses grupos, como é o caso do solo Desabotoa minha gola, com Ludmila Rosa, inspirado na vida de Patrícia Galvão, a Pagu, com direção de Haroldo Rego.
Sobre fundo verde

Em cartaz no Teatro do Jóquei, a peça Passagens, dirigida por Diego de Angelis, traz à cena o primeiro trabalho da Pangéia Cia. de Teatro, que durante um ano e meio realizou uma pesquisa inspirada em procedimentos cinematográficos. Sete atores se revezam na apresentação de diversos personagens. A dramaturgia do espetáculo não conta com uma fábula, mas com pequenos momentos, recortes de situações vividas por personagens cujas características são apenas sugeridas. O espetáculo é formado por quadros, de duração variada, que se dão a ver sobre um fundo verde – referência a uma técnica utilizada no cinema: os atores fazem as cenas sobre um fundo infinito, para que se acrescentem os efeitos especiais num segundo momento.
Sem surpresas

É, de certa forma, um desafio abordar um espetáculo como Ensina-me a viver, dirigido por João Falcão, que está atualmente em cartaz no Teatro do Leblon. Muita coisa está em jogo quando se vai assistir a um espetáculo economicamente bem-sucedido. A platéia está cheia; a crítica jornalística é, via de regra, favorável; a divulgação maciça agrega status de evento à peça; os nomes famosos na ficha técnica dão um toque de glamour ao entretenimento; há uma atmosfera de sucesso em torno da peça: tudo isso contribui para induzir o espectador a ficar satisfeito com a ida ao teatro, quase independentemente do seu juízo sincero sobre o espetáculo.
Como se chama ou Por afeto

Uma peça com dois títulos, ou dois títulos colados um no outro: esse é um pressuposto que não pode ser deixado de lado. O título de uma peça não é dado arbitrariamente, ele pode compor o sentido da obra, explicitar algum motivo do processo de trabalho, pode ser um enigma ou só mesmo uma frase de efeito. Colocar dois títulos juntos numa peça me parece ser uma proposta feita ao público a priori: você pode ver desta ou de outra maneira, você pode entender isto ou aquilo. Ou ainda: você pode ver desta e de outra maneira, entender isto e aquilo. O “ou” do título me parece sugerir sobreposições. Ele é um pouco “e”.
Entre atores
A montagem de Realidade virtual tem no elenco Claudio Mendes e Marianna Mac Niven, que optaram por dirigir a si mesmos, tendo Josué Soares como diretor de corpo, gesto e movimento. O texto do norte-americano Alan Arkin, traduzido pela própria Marianna, parece bastante despretensioso. Trata-se, certamente, de um texto cômico, mas tanto a dramaturgia como o tratamento dado a ela pela encenação se desviam dos caminhos mais comuns da comédia – digo isso levando em consideração o que é mais visível como comédia no teatro carioca, ou seja, o que mais se vê nos espetáculos que são grandes sucessos de público, como os que fazem apresentações em casas de show ou têm chamadas na televisão. Realidade virtual não tem bordões nem estereótipos, muito menos piadas. Há diversos momentos engraçados, mas não há aquelas pausas para a platéia rir que transformam as peças cômicas em algo parecido com um show de calouros. Não se trata de algo feito exclusivamente para fazer graça; o riso não é obrigatório. No entanto, mesmo dentro dessa perspectiva de comédia, há um pequeno desequilíbrio entre as atuações.