Tag: XII Mostra de Teatro da UFRJ
Uma mulher decidida
Quando me deparo com montagens teatrais dentro do âmbito universitário, sempre destaco a importância, e o prazer, de ver produções em que o estudante de teatro se permite mais correr riscos do que se deixar seduzir pela ansiedade de fazer uma montagem como um produto acabado, bem feito e sem arestas. Considero de extrema valia trabalhos em que os jovens artistas se permitem expor a dúvida, as perguntas que se fazem durante o processo de produção de uma obra. Esta é uma premissa vital para a discussão do teatro que se faz na atualidade, pois a relação de experimentação e risco que algumas experiências acadêmicas proporcionam abre espaço para um teatro que nos impulsiona à reflexão, a outros modos de fruição como espectador. Por esse viés, volto meus olhos para os recentes trabalhos da XII Mostra de Teatro da UFRJ em que me deparo com uma gama muito diversificada de propostas cênicas, que vão desde trabalhos solos à encenação de um musical do porte de Os miseráveis, por exemplo.
Nunca fomos miseráveis

O caos político e o crescimento econômico de Paris em meados do século XIX é o contexto histórico deste espetáculo. Poucos anos após a Revolução Industrial, os trabalhadores franceses se multiplicavam em fábricas com condições de serviço vis. Amontoavam-se miseráveis nas zonas pobres da cidade, e dessa densidade demográfica forçada cresceram muitos movimentos de luta política. Durante revoltas e barricadas, dois reis foram derrubados e milhares de pobres foram mortos. A derrota dos reis é sintoma do enfraquecimento do regime político diante das mudanças. Já quando parte do povo morre, os que ficam se reconhecem na dor e ganham força, entendem-se como coletivo, e uma classe se constitui. Os Miseráveis, baseado no romance homônimo de Victor Hugo, expõe o proletariado francês sem recursos, desesperado, brigando por melhorias de vida no início dos tempos modernos.