Atriz: Ângela Dip. Foto: divulgação.

“Fazer isso, ligar o teatro à possibilidade da expressão pelas formas, e por tudo o que for gestos, ruídos, cores, plasticidades, etc, é devolvê-lo à sua destinação primitiva, é recolocá-lo em seu aspecto religioso e metafísico, é reconciliá-lo com o universo” (ARTAUD, 2006:77).

Apagam-se as luzes da plateia. Ao iniciar o espetáculo, o espaço sonoro é preenchido por uma voz feminina em off, suave, plena de potência e de vontades. Uma voz que deseja o mergulho no ar e por sobre as cataratas. Desejo de cortar o espaço de maneira vertical, de furar o bloqueio das possibilidades do entendimento. Entendimento sobre si e sobre aquele que assiste, sentado na plateia. Um pássaro que carrega o seu fardo, que deseja voar, mas está preso ao seu destino em terra firme. Objeto que prende. Barril que encerra sua presa dentro de si e por sobre si. Desejos em conflito. Conflito entre o que se ouve e o que se vê. Construção imagética que se mantém autônoma do significado lingüístico. Essa atmosfera poética é emanada para o espectador, que compartilha junto com os demais, as angústias e os temores de uma figura (não, necessariamente, um sujeito psicológico) que divaga uma série de questionamentos abstratos sobre a existência. Ouvimos a narração durante o blackout.