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Diários do Théâtre du Soleil (3)
ENTREVISTA COM ARIANE MNOUCHKINE
Tenho medo do que ela possa pedir. Percebo que tenho bastante dificuldade com improvisação. Chego uma hora antes e Charles-Henri, assistente de Ariane, pergunta se eu quero fazer no grupo anterior, digo que não. Isso acabaria com toda a minha preparação. Percebo novamente que tenho dificuldade com improvisação, talvez seja o caso de trabalhar isso na análise.
Tenho tudo pronto: Meia calça, segunda pele, calça, camisa de manga comprida, meia para a cabeça e sapatilha. Tudo preto.
Meu grupo é chamado. Somos 30. Chegando lá, somos recebidos por Ariane que nos explica como ela não gostaria de estar fazendo aquilo, mas que infelizmente não pode aceitar todas as 2000 e não sei quantas pessoas que se inscreveram para fazer o estágio. Meu coração bate mais forte. Ela diz que independentemente da resposta, isso não significa nada a nosso respeito e que a única coisa que ela vai tentar observar é se nós sabemos “receber”. Receber do outro. O exercício é de Coro-corifeu. Fico feliz, pois já fiz esse exercício outras vezes, no estágio com Juliana Carneiro da Cunha e na minha companhia. Olho em volta e procuro Juliana, não a vejo. Gostaria que ela estivesse ali e que ela fizesse o Corifeu, mas ela não está e o nosso corifeu será Duccio, outro ator do Soleil. Ariane divide nosso grupo em 3: 2 de mulheres e 1 de homens.
Diários do Théâtre du Soleil (2)
TERCEIRA SEMANA
Difícil escrever… escolher sobre o que escrever. Às vezes em uma semana de curso a única coisa que fica é uma imagem. Esta semana foi assim. Tivemos muito trabalho, cenas e mais cenas de Ion e Sócrates dialogando, a arte da rapsódia, a arte do ator. Equívocos e apontamentos. Como sempre mais equívocos do que apontamentos, mas é assim mesmo, quero dizer, o trabalho é assim.
E então, na tentativa de nos ajudar, Vassiliev falou de uma imagem que não me saiu da cabeça: que o jogo, a cena seria como dois cachorros quando estão brincando de se morder, na verdade os dois querem ser mordidos, eles esperam por isso, quando acontece eles fogem um pouco, mas logo estão de volta pra recomeçar a brincadeira. Com crianças é assim também, quando elas brincam de pega ou pique-esconde, elas querem ser pegas ou achadas, porque só assim a brincadeira pode continuar. É uma estratégia, é consciente, é estar fora da situação e dentro do jogo.
Diários do Théâtre du Soleil (1)
APRESENTAÇÃO
Meu nome é Gabriela Carneiro da Cunha, sou atriz, tenho 26 anos e fui para Paris para o dia 29 de dezembro de 2008 pra fazer o estágio no Théâtre du Soleil. Cheguei dia 30, um dia antes do ano novo e 40 dias antes do início do estágio. Os motivos para chegar assim tão cedo foram 3: primeiro precisava praticar o francês; segundo, um estágio com o encenador russo Anatoli Vassiliev que estaria acontecendo no mês de janeiro em Paris e terceiro, a passagem para Paris triplica de preço depois da meia noite do dia 31 de dezembro. O jeito foi esquecer o ano novo em Copacabana e começar a pensar no Réveillon na Torre Eiffel.
A questão da passagem é o que motiva este e os outros textos que escrevi, escrevo, escreverei. Consegui o dinheiro para financiar minha passagem em um edital do Ministério da Cultura, chamado edital de intercâmbio cultural, onde uma das exigências é uma proposta de contrapartida. Esta foi a minha proposta, escrever uma espécie de diário virtual sobre as atividades desenvolvidas durante o estágio para ser postado neste site. A proposta só fazia referência ao estágio no Soleil, mas de qualquer maneira resolvi escrever também sobre a experiência com Vassiliev.