Seria desnecessário esclarecer – visto se tratar de um pressuposto básico – que a noção de “clássico” utilizada não pretende dar conta de artistas que se inspiram em modelos da antiguidade para a produção de suas obras. Tampouco se deseja afirmar que os trabalhos de Peggy Shaw, Peter Brook, Richard Foreman e Judith Malina aqui tematizados são apolíneos, guardando entre si similaridades formais e estruturais. De fato, tais personalidades e suas trajetórias artísticas são clássicos do teatro, na medida em que se transformaram em importantes referências para a prática e a reflexão a respeito da história recente das artes cênicas, em um ambiente global. Problemática, a última afirmação deve levar em conta o contexto de surgimento e atuação de tais autores, todos de nacionalidade norte-americana, com exceção do britânico Brook. Tendo em mente a importância da cidade que nunca dorme no circuito e no mercado de arte contemporânea, talvez seja adequado dizer que o título conserva, em si, uma tautologia, pois Nova York, como tal, é o centro de produção de clássicos contemporâneos, sendo assim, uma cidade-clássico, cidade-modelo.

O modelo, no entanto, nada tem a ver com as propostas urbanísticas recentes de instauração de cidades-empresa promotoras de grandes eventos culturais e esportivos. Se a cidade de Nova York é um clássico, ela o é por ser uma city of quotations, um espaço urbano composto por citações que passam pela diversidade de idiomas, pelos revivals arquitetônicos (em especial das igrejas em estilo românico e gótico como a Cathedral Church Saint John The Divine), pelas comunidades (Chinatown seria o mais direto exemplo) etc. As citações passam, sobretudo, pelas grandes questões socioeconômicas de qualquer metrópole, tais como a população de sem-teto, as desconfianças decorrentes do terrorismo, as intempéries naturais, bem como apartheids socioculturais. Trata-se, portanto, de um modelo não idealizado e, como tal, a cidade se torna perfeito local de produção de obras como Ruff (Shaw), The Suit (Brook), Once Every Day (Foreman) e Here We Are (Malina). Nos parágrafos a seguir, tais obras serão comentadas, tendo em vista a trajetória de seus criadores e também o impacto de suas recentes produções (cujas estreias em 2013 são paralelas ao início do segundo mandato de Obama) na atualidade.