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A burguesia é branca

Está em cartaz, até o dia 27 de julho, no Espaço SESC em Copacabana, o espetáculo As regras da arte de bem viver na sociedade moderna, escrito pelo francês Jean-Luc Lagarce, com atuação de Lorena da Silva e encenação de Miguel Vellinho. Apresentado no Espaço Bar, área cênica reservada para experimentações de caráter mais intimista (o espetáculo comporta somente trinta e dois espectadores), a linguagem da encenação produz reflexão que, por meio da ironia, retrata o jogo de interesse que esclarece a essência da filosofia de vida na sociedade capitalista-burguesa, onde as relações de privilégios e regalias entre as elites estruturam-se solidamente em laços perpétuos de comunhão “fraternal” ou “amorosa” nos sacramentos da Igreja Católica.
Um jogo de objetos animados

A vertigem do familiar é a mais vertiginosa de todas. Salas de estar podem rapidamente se tornar salas de estranhar.
Venâncio Filho sobre a exposição Salas e abismos de Waltercio Caldas
Desde que Marcel Duchamp colocou a questão acerca do que faz com que alguma coisa seja um objeto de arte, nos encontramos em uma possibilidade de abertura para pensar a relação entre a arte e a vida sob uma perspectiva, no mínimo, mais acurada. Nosso olhar sobre os espaços cotidianos procurou por sua transubstanciação, encontrando neles suas próprias poéticas. A característica da concretude pela qual é constituída a linguagem teatral pode ser um elemento importante para destacar essa relação. Talvez seja por isso que cismo tanto em gostar de teatro, por sua configuração material, pela encarnação dos nossos processos de representação mental. É essa tensão que, a meu ver, formaliza o espetáculo Dois jogos: sete jogadores, dirigido por Celina Sodré – uma construção poética operada em seus pormenores nos objetos e que, assim, promove a incorporação do humano nos seus meandros. Se por um lado, ações e objetos no espetáculo são criados a partir de uma noção de obra de arte, por outro lado, essa criação acaba implicando o mundo na performance artística. Claro que minha percepção também se deve ao fato de acompanhar o trabalho da diretora ao longo dos últimos quinze anos. Celina se dedica a um trabalho impregnado pela noção de colagem e de montagem e pelo princípio de uma construção repleta de referências.