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A imagem permanece transitória
O que torna possível uma imagem conjugar simultaneamente em sua natureza transitoriedade e permanência? O que faz esta imagem desejar este paradoxo? Para a geografia, cada paisagem é singular, e dar conta da imensa gama de detalhes que ela comporta estabelece experiências imagéticas igualmente singulares. Em busca destas qualidades de estado a arte contemporânea incorpora a cada nova experiência estética propostas da ordem da especificidade, da experiência, do acontecimento, do processual, do variável, da flutuação, da impermanência, da efemeridade e da desmaterialização da matéria e corpos, ao mesmo tempo em que investe na particular qualidade de presença capaz de re-configurar o corpo em sua dimensão de sujeito. Mas o que torna uma imagem presente? Quanto mais a obra de arte contemporânea potencializa sua singularização através da sensorialidade experimentada no tempo e no espaço, com maior intensidade consegue estabelecer relações também singulares, múltiplas, entre sua estrutura e os receptores. Nesta elaboração a dimensão de acontecimento torna-se fundamental, colocando em foco as evidentes estratégias de brevidade do ato onde a finitude de sua construção, ou seja, a sua morte, coloca os espectadores diante do paradoxo. A imagem quer permanecer, mas já anuncia a sua partida. O acontecimento em sua maior força de permanência absorve os sujeitos que interagem com ele e, mesmo após a sua morte, continua ecoando indelével na experiência vivida.
Avessamentos
A performance passou a ser considerada uma expressão artística independentemente de definições na década de 1970, época em que o conceito se impunha mais do que o produto propriamente dito. Quando pensamos em performance, pode surgir a idéia de que ela tem como um de seus objetivos ou conseqüências provocar o choque. Os artistas elaboravam manifestações em espaços urbanos, avaliando de certa forma o fazer artístico em meio ao cotidiano das pessoas. O choque podia ser compreendido tanto pelo lado de quem fazia, quanto pelo lado da recepção, pois não era possível prever as reações. Uma das idéias de performance está associada mesmo à sua característica de acontecer uma vez e nem sempre deixar registro. O caso feliz da Companhia Excessos de Portugal é que ela realiza uma gravação do seu trabalho e veicula na internet, como no caso da performance O outro beijo no asfalto. O que acontece é que mais pessoas podem se envolver e os sentidos se alastram. Esse texto, portanto, é um exercício crítico mediado pelas imagens capturadas por outro, já nasce de uma operação de olhar conjunto e se constrói mais obviamente por uma alteridade.
Resta pouco a dizer, mas o resto é essencial
Assisti no Oi Futuro ao segundo programa do conjunto de peças curtas de Samuel Beckett, apresentadas sob o nome Resta pouco a dizer, dirigidas por Adriano e Fernando Guimarães. O programa se inicia pela apresentação da performance Respiração +. Esta consiste em: duas caixas de vidro, suspensas por uma armação de ferro, contendo água. Dois performers, por meio de escadas, entram nas caixas. Um terceiro performer porta uma campainha e um relógio. A cada ressoar da campainha, um dos performers emerge da água e instantaneamente diz um texto que alude ao ato de respirar (necessidade, capacidade, etc.).