Atrizes: Lia Machado e Kassandra Speltri. Foto: Mauricio Morais.

Por quase 40 anos, a obra dramatúrgica de Hilda Hilst permaneceu à sombra de sua prosa, esta sim frequentemente adaptada ao palco em montagens como O Caderno Cor de Rosa de Lori Lamby ou A Obscena Senhora D. Somente em 2008 foi lançada a reunião de suas peças completas, grande parte inédita: um incentivo a encená-las. Não surpreende, portanto, que a Ruminar Cia. de Teatro, de Curitiba, tenha se proposto a montar O Visitante, texto ímpar em uma obra teatral já toda singular.

Hilda se dedicou à literatura dramática apenas em um curto período entre 1967 e 1969, ano em que a produção numerosa e consistente de mulheres como Leilah Assunção e Consuelo de Castro afirmava, pela primeira vez, a dramaturgia de autoria feminina no país – mas Hilda se diferencia de suas contemporâneas por escapar ao teatro de costumes. Naquele momento, a tomada do palco como lugar de expressão sinalizava o crescente movimento feminino de apropriação do espaço público – para além da literatura, solitária e circunscrita ao ambiente privado – uma das principais bandeiras feministas.