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A babel de Qorpo Santo

24 de fevereiro de 2011 Críticas
Atores: Alfândega 88 Cia. de Teatro. Foto: Guga Melgar.

Encenar as peças de Qorpo Santo, autor do século XIX, não é tarefa fácil nem comum nos palcos da cidade. Comediógrafo pouco visitado por nossas companhias, diretores e atores, o autor traz uma obra bastante peculiar para uma época em que ainda reinavam os dramas históricos de João Caetano, as comédias de costumes de Martins Pena o realismo do Ginásio Dramático de José de Alencar para traçar um rápido panorama do teatro na segunda metade do século XIX. Com uma escrita fragmentada, satírica e paródica, José Joaquim de Campos Leão, o Qorpo Santo, retrata cenas prosaicas do cotidiano, colorindo-as com tons de um universo nonsense, onde trafegam personagens alegóricos (como Interpreta, Impertinente, por exemplo, em As relações naturais) sem uma linha lógica de ação tempo e espaço. Há em sua escrita um foco na representação, a cena propriamente dita.

A sonoridade material do texto

16 de julho de 2010 Críticas
Atriz: Ana Barroso. Foto: Guga Melgar

A encenação de Merci em cartaz no Teatro do Oi Futuro do Flamengo, escrita por Daniel Pennac, com a direção de Moacir Chaves e a atuação de Ana Barroso é um exemplo de como podem ser congregados de maneira sutil a dramaturgia, a cena e a escrita. A sutileza aqui criou um campo de beleza para a recepção no sentido da estética. Todos os elementos que constituem a encenação são cuidadosamente e inteligentemente elaborados. Para começar, vale a pena ler o programa deixado nas cadeiras do teatro. A escrita começa a forjar um imaginário antes mesmo do texto falado e que, ao final, se junta a esse último criando a possibilidade de desdobrar sentidos, uma esfera quase material para nossa reflexão.

Homenagem à paródia

15 de dezembro de 2008 Críticas

Em um texto publicado há pouco, comentei que o teatro carioca apresentou, recentemente, alguns trabalhos solos bem interessantes. Esses trabalhos colocavam em movimento alguns pressupostos estabelecidos sobre nossas noções de atuação e de construção de personagem e permitiam que os atores trouxessem à tona, na materialidade da cena, suas teatralidades particulares. Parece, no entanto, que o público, de um modo geral, tem um certo preconceito contra monólogos. É como se a idéia de monólogo fizesse vir à mente o enfado de um discurso pedante, de um depoimento ou, quem sabe, de alguma espécie de sermão. E é justamente com o formato de sermão que a peça The Cachorro Manco Show brinca, misturando-o com outros formatos monológicos, em voga nos dias atuais: a stand-up comedy dos palcos e a fala dos pedintes das ruas.

Sobre imagens

10 de julho de 2008 Críticas
Atores: Josie Antello, Claudio Gabriel , Cândido Damm , Vera Novello, Isio Ghelman, Ana Velloso. Foto: divulgação.

Não se pode esperar que seja fácil realizar uma transposição para o teatro do curto romance de Adolfo Bioy Casares. Nem que essa realização se transforme em um indubitável sucesso de público. Mas certamente se pode contar com a força da narrativa e com espectadores que tenham uma disponibilidade específica para assistir um trabalho como esse. Trata-se da história de um fugitivo que vai para uma ilha desabitada, onde se acredita que haja uma peste. Tudo o que ele sabe é que na ilha encontrará um museu, uma piscina e uma capela. Na sua condição de fugitivo, a peste não parece assustá-lo. Lá ele se surpreende ao encontrar, depois de alguns meses, um grupo de pessoas que ocupam a ilha. O fugitivo escreve um relato dos seus dias a partir do momento em que ele repara que as condições de vida na ilha saíram do âmbito da normalidade. O que vemos em cena no espetáculo dirigido por Moacir Chaves é exatamente esse relato, que não é dramatizado, mas narrado por três atores (Cândido Damm, Cláudio Gabriel e Isio Ghelman) e três atrizes (Ana Velloso, Josie Antello e Vera Novello) que se revezam.

Mosaico de atuações

10 de junho de 2008 Críticas
Foto: Guga Melgar

Na peça O Jardim das Cerejeiras de Anton Tchekhov, dirigida por Moacir Chaves, uma primeira imagem se coloca para o espectador: um mosaico de tapetes entremeados de pequenos retângulos de grama artificial está estendido sobre o chão e pode ser visto desde o momento em que o público entra no teatro. Ao longo da peça, o mosaico permanece sempre em cena e às vezes ganha um tratamento especial da iluminação. É possível fazer associações entre os recortes de tapete e de grama que coexistem naquela imagem e as diferentes formas de ver o mundo que convivem na peça. O cenário e a iluminação apresentariam, dessa forma, uma metáfora para a fábula.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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