Pode-se dizer que a tragédia, gênero teatral grego do século V a.C., é para nós um objeto eminentemente literário. De fato, os pesquisadores pouco podem afirmar sobre os festivais teatrais da Atenas de Péricles. Ao fim e ao cabo, permanece apenas o texto preservado ao longo dos séculos, repleto de emanações arcaicas, dotado de uma difusa dramaturgia calcada em intrincada (porém inegável) beleza poética. Resulta disso um desafio para o teatro contemporâneo: como dar vida a deuses e heróis, seres imortalizados e imobilizados não apenas em imagens de imenso peso cultural, mas principalmente em versos poéticos? Como dar vida, enfim, a estátuas de mármore e palavras, a ídolos fora do tempo e do espaço, tanto histórica quanto existencialmente?