Foto: Daniel Protzner.

Ser espectador diante de um espetáculo da companhia colombiana La Maldita Vanidad é assumir a posição de voyeur. A encenação hiper-realista oferece-se como um pacto de ilusão, pelo qual se falseia o testemunho de um acontecimento da vida alheia. Eis o paradoxo no qual o grupo envolve o público: quanto mais persegue o real nos menores detalhes de ações, falas e espaços, mais se torna capaz de fazê-lo suspender a descrença, ou seja, de iludi-lo. O efeito de ilusão, contudo, depende da radicalidade no uso dessa linguagem e da complexidade da situação em que é empregada, e está sempre sob o risco de se desfazer. No limite do hiper-realismo, qualquer fissura pode desestabilizar o pacto.