Foto: Ivan Abujamra.

“Marc Rothko: É claro que eu fico meio deprimido sim, quando eu penso em como as pessoas vão ver minhas pinturas. Elas vão ser cruéis. Vender uma pintura é como mandar uma criança cega para dentro de uma sala forrada de giletes. Ela vai se machucar.”

John Logan, Vermelho

Em Hannah e suas irmãs, de Woody Allen, somos brindados com uma breve sequência em que Frederick, o circunspecto pintor vivido por Max Von Sydow, recebe em seu ateliê a visita de Dusty Fry, um jovem e milionário astro do rock. Dusty acabara de comprar uma “casa enorme” em Southhampton, bairro chique no subúrbio de Nova York, e estava à procura de obras de arte. Logo ao chegar, querendo talvez conquistar a simpatia do pintor, ele diz que recentemente tinha adquirido obras de Andy Wahrol e Frank Stella. Frederick lhe mostra então dois belos desenhos de sua mulher, Lee, nua. Mas Dusty mal olha para eles. Retruca que precisava de obras maiores, já que tinha “muitas paredes vazias”. Frederick, irritado, responde que seu trabalho não é vendido a metro, mas, pressionado pela mulher e pela falta de dinheiro, aceita mostrar seus óleos para o possível comprador. Este, depois de vê-los, pergunta ao pintor se ele não teria quadros marrons que pudessem combinar com o seu sofá. Frederick explode e berra que arte não é decoração. O jovem roqueiro, incapaz de compreender por que nem tudo estaria disponível para um endinheirado simpático como ele – “todo canalha é simpático”, dizia Nelson Rodrigues –, vai embora sem comprar nada.