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Juventude – o novo em recorte dramático
A noção de leitura e sua relação com nossos processos de recepção é um forte elemento para a construção das obras contemporâneas que o espetáculo Os inocentes, encenado pelo Brecha Coletivo, formaliza. Criado a partir do livro The holy innocents de Gilbert Adair e tendo como referência o filme Os sonhadores realizado por Bernardo Bertolucci em 2003, o espetáculo é constituído por meio de uma escolha dramatúrgica que privilegiou um elemento caro ao drama que é a relação inter subjetiva dos personagens e como essa relação é propulsora da ação. Essa escolha é um acerto do texto de Julia Spadaccini e Rodrigo Nogueira diante do desafio de realizar uma obra teatral que tem como ponto de partida outras duas obras, uma literária e uma cinematográfica, ambas possibilitando leituras diversas na medida em que são produtos de linguagens distintas. Na literatura, o leitor realiza a construção de imagens particulares que a materialidade das palavras suscita, no filme, a imagem – visualidade – é sua materialidade. Do modo como eu percebo, a dramaturgia de Os inocentes se configura como uma terceira obra, uma espécie de outro original, menos no sentido de uma essência ou de um panorama com qualquer significação vertical ou horizontal das duas obras anteriores e mais no sentido de uma obra que se estende como uma multiplicação.