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Olhar para o estranho familiar

20 de junho de 2008 Críticas

O FESTLIP trouxe para o Rio de Janeiro espetáculos de cinco países nos quais a língua portuguesa é a mais difundida, apesar de não ser a única. Sob o pretexto de aproximar manifestações teatrais que falam o mesmo idioma, o festival tem como mote cinco características, que o material impresso divulga como estímulos para a curadoria – entre elas a igualdade e a diversidade. O encontro dessas cinco culturas bastante distintas no Brasil – três africanas, uma européia e uma local – é absolutamente rico e complexo, especialmente considerando a iniciativa do festival de manter todos os grupos sitiados pelas quase duas semanas que dura o festival, assistindo os espetáculos uns dos outros e participando juntos de oficinas ministradas por diretores brasileiros. É questionável, todavia, que se espere alcançar algum tipo de igualdade ou unidade – que não a lingüística – a partir desse encontro.

Memória como tradição

20 de junho de 2008 Críticas

O FESTLIP trouxe o carismático Grupo Mutumbela Gogo de Maputo para encenar As Filhas de Nora. Nora é a mesma da Casa de bonecas, e esta encenação moçambicana propõe uma continuação à história de Ibsen, respondendo o que teria acontecido com as três filhas de Nora após o sumiço da mãe. Porém, as filhas desta peça também são filhas da África e transportam o drama realista da problematização social que Ibsen enxergava na Noruega para uma realidade contemporânea das doenças sociais sofridas pelas mulheres de Maputo. Foi incrível identificar tamanha semelhança e continuidade nos problemas com  um século de diferença.

Sugestões esboçadas

20 de junho de 2008 Críticas

O recém-encerrado Festlip proporcionou ao espectador um breve contato com representantes da produção teatral de países de língua portuguesa. Há um mérito incontestável nesta proposta, ainda que o resultado apresentado nem sempre se revele satisfatório.

De Cabo Verde desembarcou O doido e a morte, montagem do Grupo Teatral do Centro Cultural Português do Mindelo, que, fundado em 1993, ocasionalmente se dedica à encenação de textos da dramaturgia clássica. No caso específico deste espetáculo, os integrantes decidiram se deter sobre uma obra do autor português Raul Brandão, centrado da perspectiva do fim iminente ao confrontar um político poderoso com a súbita presença de um terrorista.

Herança da palavra

20 de junho de 2008 Críticas

Em cena, estão dois atores que realizam uma briga de casal. No inicio do espetáculo, os atores estão em pé e olham para direções distintas. Ela (Naed Branco) tem a cabeça enfaixada, um curativo no rosto e a roupa sugerindo peças desgastadas. Ele (Hélio Taveira), camisa branca, calça preta e porte atlético. Um pano branco, no qual algumas linhas côncavas e convexas estão pintadas nas cores vermelho e verde, reveste o fundo e as laterais do palco. Alguns baldes pendurados do teto, algumas bacias emborcadas no chão (posições côncavas e convexas), quatro mesas de madeira e muitas velas sobre latas de cerveja. A iluminação é fraca, está quase tão somente a cargo das velas. O diálogo do casal revela que simbolizam o país e seu povo. Angola agoniza pelos anos de colonização e pela guerra civil. O povo sofre e tenta compreender sua situação, concluindo que precisa agregar na consciência suas derrotas e suas conquistas. Ao final, o casal se reconcilia na esperança de dias melhores a partir da ação conjunta. A ação do ator que apaga todas as velas e desfaz o cenário nos remete à uma idéia de reconstrução a partir dos despojos dos vencidos. Indica ainda que existe uma esperança na agricultura, no trabalho com as riquezas naturais.

Que a terra lhe seja leve

20 de junho de 2008 Críticas

A montagem paranaense Capitu – Memória Editada, com direção de Edson Bueno, é mais do que uma adaptação da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis. Trata-se aqui de uma transcriação do romance para a cena. Vale recorrer a Linei Hirsch, que sugere o termo transcriação e cita procedimentos que observa serem usualmente aplicados a uma obra narrativa literária para sua utilização no teatro: a eliminação de certos elementos estruturais; a condensação da estrutura narrativa; a ampliação de aspectos específicos dentro do universo dramático; a fragmentação e re-associação de episódios e trechos da obra. “Procuramos uma dinâmica de interatividade, com os atores convidando a platéia a discutir cenas do livro ao mesmo tempo em que a história original é contada”, afirma Edson Bueno, diretor do espetáculo. “Quem conhece a obra vai conversar, aproveitar mais o espetáculo”, acrescenta o diretor.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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