A Cia Amok, através da trilogia da guerra, vem propondo uma reflexão sobre as subjetividades que vivenciam grandes conflitos bélicos e também uma nova forma de fazer um teatro político. Em Dragão, de 2008, o tema era o conflito entre palestinos e israelenses, a partir de depoimentos tirados da realidade, como no teatro documentário. Em Kabul, de 2010, a matéria principal partiu do romance Andorinhas de Kabul e de uma imagem real de uma mulher de burca sendo assassinada no estádio de Kabul para falar da total perda de humanidade. Em Histórias de família, a Amok optou por representar um texto dramático de uma escritora sérvia que vivenciou a guerra da Bósnia.

Para falar do aniquilamento de pessoas que a guerra causou na Bósnia, Biljana Srbjanovic escreveu Histórias de família. O conflito na ex-Iugoslávia testemunha uma limpeza étnica comandada pelas tropas sérvias, marcando a irrupção da barbárie na própria Europa. Neste caso, o real se torna tão imediato e possui uma tal dimensão de barbaridade que foi preciso fazer uma elaboração estética complexa. A autora trata de um drama familiar interpretado por atores que interpretam crianças, que por sua vez brincam de representar os adultos. Ela quis mostrar a falta de coerência do mundo dos adultos e de como eles podem se comportar como crianças de uma maneira irresponsável com as questões do mundo.