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O que nos livra do esquecimento

29 de abril de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

O espetáculo Cowboy, com dramaturgia de Daniela Pereira de Carvalho e dirigido por Henrique Tavares, apresenta um pensamento sobre os estados de loucura e seus limiares colocando em confronto duas perspectivas: uma é a daquele que passa por um estado de sofrimento mental, e outra, é a do que sofre sua repercussão. Neste atrito, mostram-se duas solidões em sofrimento e se dá a ver a inelutável restrição edificada pela afirmação de um único ponto de vista. A questão da loucura não é tratada por tentativa de sublimação ou mesmo de criação de um lugar de valor, o que demonstra uma visão sensível e constrói uma poética transgressora das nossas referências mais comuns.

Sobreviventes na intermitência da luz

27 de fevereiro de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

Convencido de que o enigma exigia uma resposta, eu busquei na obscuridade.

(Georges Banu, in Avec Grotowski, 2011, p. 8 )

A peça Breu, em cartaz no Teatro III do Centro Cultural do Banco do Brasil até março e com direção de Maria Sílvia Siqueira Campos e Miwa Yamagizawa, dá a ver o encontro de duas mulheres em um contexto cotidiano de suas vidas, assoladas de modos distintos, pelas consequências da ditadura militar no Brasil. O texto de Pedro Brício expõe uma perspectiva temporal complexa que sugere indeterminações de passado e presente, configurações de fusões e de repetições que transfiguram um modo de pensar o tempo e, portanto, a história também. A história no caso de Breu é projetada para os espectadores pela vida dos vencidos, pelos pequenos acontecimentos no refúgio da casa, por meio de diálogos quase anódinos e entrecortados de duas personagens que deixam escapar uma tensão provocadora de um latente estado de suspensão que acompanha o que é desconhecido e que está enunciado no título. Essa qualidade de transfiguração de uma noção temporal na dramaturgia revela um autor que se firma por uma escrita elaborada capaz de revelar, sem eloquência, o intempestivo ocasionado por um acontecimento histórico-afetivo, como são todas as investidas de uma ditadura na vida dos indivíduos.

Intraduzível

22 de fevereiro de 2012 Críticas
Nicole Cordery. Foto: Tatiana Farache.

O diretor Felipe Vidal, que já havia montado a peça Tentativas contra a vida dela, de Martin Crimp, continua sua relação com o autor inglês montando Duplo Crimp. Este é um projeto composto de duas peças, O campo e A cidade, ambas traduzidas por Daniele Avila Small, e que estiveram em cartaz no Teatro Gláucio Gill de 13 de janeiro a 13 de fevereiro.

É inevitável estabelecer, primeiramente, a ordem destas em relação a Tentativas. Sendo um marco na carreira e no estilo de Crimp, Tentativas fundamentou elementos dramatúrgicos que podem ser vistos em iminência na peça O campo e já bem explorados em A cidade. Vamos nos ater especialmente na construção das identidades de seus personagens e das questões postas aos atores para interpretá-los.

Contra a genealogia

26 de janeiro de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

“O que implica a excessiva ênfase na ideia de conteúdo é o eterno projeto da interpretação, nunca consumado.”
“Por interpretação entendo nesse caso um ato consciente da mente que elucida um determinado código, certas ‘normas’ de interpretação.”
Susan Sontag

Os quatro cômodos feitos pela cenógrafa Aurora dos Campos são compostos por elementos de tempos diversos – das projeções à batedeira e aos móveis antigos, do quarto à cozinha, o espetáculo Você precisa saber de mim, com direção de Jefferson Miranda, trata das relações familiares que se repetem em qualquer período: presente, passado e futuro.

Amor e impressões materiais da cena

27 de novembro de 2011 Críticas
Fragmentos. Foto: Jorge Bispo.

Histórias de amor parecem não esgotar possibilidades de criação ficcional no cenário teatral carioca nas temporadas que estão ou já saíram de cartaz nesse segundo semestre. As hesitações do indivíduo diante da insegurança e do medo de assumir uma paixão, os relatos subjetivos que denotam a incômoda segurança de uma relação estável, os diálogos que beiram o monológico, em que se manifestam estados de crise de um casal, os momentos nostálgicos do primeiro encontro e a dor da separação tornam-se temas recorrentes em textos constituídos a partir de olhares e perspectivas bastante singulares. Diante desse cenário romântico, as variadas formas de tematizar o amor e os seus desdobramentos oferecem aos espectadores o gosto pela identificação com as situações expostas, permitindo ao público rir ou sofrer junto com o patético, com a mentira, com a falta do que dizer e com a felicidade de um juramento que se propõe eterno.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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