Vol. VIII n° 66 dezembro de 2015 :: Baixar edição completa em pdf

Resumo: A partir de questões históricas sobre o drama, este artigo busca traçar alguns apontamentos que concernem ao sujeito, à voz, à imagem e ao corpo no teatro de Samuel Beckett. Para tanto, estabelece-se diálogo com a psicanálise lacaniana, tendo como conceito operador a temporalidade do a posteriori, para propor uma leitura preliminar de Souffle, um intermédio que, sem palavras e sem atores em cena, põe em jogo questões fundamentais da subjetividade.

Palavras-chave: Samuel Beckett, psicanálise, corpo, voz, imagem

Sommaire: À partir des questions historiques sur le drame, cet article cherche à esquisser quelques remarques qui concernent le sujet, la voix, l’image et le corps dans le théâtre de Samuel Bekett. Pour le faire, on établit un dialogue avec la psychanalyse lacanienne, en ayant comme concept opérateur la temporalité de l’après-coup pour proposer une lecture préliminaire de Souffle: un intermède qui, en n’ayant pas de paroles et pas d’acteurs, met en jeu des questions fondamentales de la subjectivité.

Mots-clés: Samuel Beckett, psychanalyse, corps, voix, image

 

Estudar o teatro de Samuel Beckett (1906-1989) é um trabalho de delicada análise das diversas subversões formais encenadas em suas peças. Dentre os aspectos singulares de seu teatro, especialmente em suas últimas peças, a imagem tem sido destacada como um tipo de produção formal que põe em tensão o gênero drama. Pensar a imagem no teatro beckettiano implica compreender a convergência de duas camadas formais: a imagem verbal do texto dramatúrgico e a imagem cênica, concebida pela execução fiel das rubricas do autor, ou por releituras que ressignificam seu teatro a cada nova montagem. Em geral, o teatro final de Beckett se funda em uma dramaturgia que não implica desdobramentos causais no enredo, que resulta na estaticidade dos corpos, delineados por luz e penumbra. Além disso, para pensar a imagem, recorre-se às ideias de Beckett sobre a pintura dos irmãos van Velde, expostas em Peintres de l’empêchement. Nesse texto, Beckett propôs que, na pintura de Bram e Geer van Velde, o “impedimento-olho” e o “impedimento-coisa” eram procedimentos formais que marcavam a “recusa de aceitar como dada a velha relação sujeito-objeto” (BECKETT, 1990, p. 58). No presente artigo, levanto um traçado de procedimentos formais beckettianos que dão forma à imagem para pensar a encenação de Souffle, que se funda em um impedimento-voz: na convergência entre corpo, tempo e linguagem.